Quase
nenhum espaço é dado à discussão sobre a voz, sua importância e
suas alterações, principalmente quando se trata do processo de
desenvolvimento da voz da criança, particularmente sobre a Disfonia
Infantil (Distúrbio Vocal Infantil).
A
voz é uma das características mais individualizadas do ser humano,
qualquer desvio no comportamento vocal é facilmente identificado
pelo ouvinte.
O
desenvolvimento da voz acompanha e representa o desenvolvimento do
indivíduo, tanto do ponto de vista físico como do psicológico e
social.
O
choro é um dos eventos mais esperados do nascimento. Segundo Kant
(1783), a única espécie que emite som ao nascimento é a espécie
humana, o choro é a primeira manifestação de comunicação.
A
laringe precisa comprovar imediatamente sua eficiência nas funções
respiratórias e protetoras, para não por em risco a vida do bebê.
Além disso, também desde o nascimento a laringe se manifesta como
órgão das emoções, comportando-se de modo específico para
expressar estados emocionais através de diferentes manifestações
vocais.
A
laringe infantil tem suas próprias características e apresenta
algumas diferenças básicas da laringe adulta. Quanto à morfologia
(forma e configuração), Diferenças Histológicas (constituição
de tecidos que na criança são mais flexíveis, ligamentos frouxos,
tecidos epiteliais mais densos, abundantes e mais vascularizados com
tendência a edemas) e Diferenças Topográficas (localização no
pescoço).
Ao
nascimento, os bebês demonstram uma excepcional variabilidade de
tons, que está diretamente relacionada à plasticidade da laringe e
à ausência de um ligamento vocal maduro, porém os movimentos
laríngeos são grosseiros e não há controle refinado desta
variação. A Disfonia Infantil é uma dificuldade na emissão da voz
com suas características naturais (Tarneaud, 1941), normalmente
passam despercebidas, porque, pais, Professores, Pediatras, se
preocupam com a precisão articulatória da fala da criança e, não
com a qualidade vocal que ela poderia estar apresentando. A rouquidão
muitas vezes é considerada parte do processo normal do
desenvolvimento, isto retarda o diagnóstico e pode comprometer o
prognóstico, contribuindo para que a comunicação seja difícil,
tensa, fator de estresse infantil. Portanto, não é normal uma
criança ficar rouca, rouquidão é sinal de um problema na voz, se a
criança ficar rouca com frequência é necessário compreender o que
esta acontecendo.
A
alteração da voz em crianças pode interferir na sua comunicação,
no desenvolvimento social e educacional, compromete a participação
em atividades com outras crianças, muitas vezes por ter uma voz mais
“grossa”, ela pode ser discriminada, podendo levar à problemas
emocionais.
Com
o crescimento e o amadurecimento físico e emocional, o comportamento
da criança muda e sua laringe também. Dependendo da causa da
Disfonia, ela pode ou não melhorar com a idade.
A
questão é: Vale a pena esperar? Esperar para ver o que vai
acontecer leva um longo tempo e enquanto isso a criança pode perder
oportunidades de apresentar trabalhos na escola, de falar em público
em apresentações, de ler em voz alta, enfim, poderá perder muitas
oportunidades.
Raramente
a criança se queixa de cansaço, dor ou esforço para falar,
normalmente o sintoma mais presente, é rouquidão, “falhas” na
voz com queda de intensidade.
Aos
sintomas, principalmente, de uma rouquidão persistente, pais,
Professores, Pediatras, enfim, aquelas pessoas que convivem com a
criança, devem encaminhá-la para o atendimento especializado.
Os
fatores causais da Disfonia Infantil, predisponentes e agravantes são
os hábitos vocais inadequados (abuso vocal e má uso vocal), fatores
físicos e psicológicos, traumatismos, hipertrofia de adenoides,
ansiedade, fatores alérgicos, etc.
Um
desenvolvimento vocal normal reflete a saúde dos órgãos que
compõem o aparelho fonador, a segurança psicológica de ser ouvido,
considerado e valo-rizado e, em última análise, uma comunicação
livre e eficiente.
Desta
forma, os aspectos relacionados ao desenvolvimento da voz na criança
devem ser estudados e divulgados, não somente aos profissionais de
saúde, mas também aos pais e educadores.
Quando
a criança apresentar um DISTÚRBIO VOCAL, é importante procurar o
Médico Otorrinolaringologista que é o profissional habilitado para
definir o tipo de tratamento para cada caso e pode pedir informações
para outros especialistas, principalmente o FONOAUDIÓLOGO. Cada caso
dever ser avaliado individualmente e as preferências e
possibilidades do paciente também são levadas em consideração.
Pais
e Professores devem fazer parte de todo o processo de tratamento à
ser desenvolvido, visando favorecer o uso vocal saudável e adequado
da criança. Necessário buscar um entendimento e proporcionar
atividades em grupo familiar ou escolar que envolvam uma boa
comunicação, como cuidar de animais, cuidar da natureza, do jardim,
passear na praça, na praia, parques, ajudar os pais nas tarefas
caseiras, ler histórias, contar histórias da família, ouvir música
suave e com ritmos diferentes, estimular atividades de artes manuais
como desenho, pinturas, massa de modelar, argila, atividades
esportivas, dança etc… desde que a criança esteja em condições
de vivenciá-las sem IMPACTO VOCAL. Pode-se introduzir hábitos
educativos de agradecimento e respeito; evitar a competição entre
conversa e barulhos ambientais como televisão, música ambientais
muito altas; ouvir mais e evitar inter-romper a narrativa da criança;
evitar chamá-la de longe para que ela não responda alto. É
importante realizar uma autoavaliação e analisar como se está
falando em casa com a criança, procurando ser um modelo de fala e
especialmente de voz.
O
enfoque básico aborda, como colocado acima, uma orientação
familiar, escolar e da criança, visando a reeducação vocal. O
envolvimento da família e da escola é essencial para que a
reabilitação seja efetiva e alcance o sucesso desejado.
Fonte:
Fonoaudiólogo Ademir Garcia Baena / Saúde Atual
Posted
by lucianafariasfono
in
Fonoaudiologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário