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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Meu filho tem distúrbio de atenção?


Você é chamada à escola de seu filho novamente e todos, dos colegas aos professores, dos faxineiros aos orientadores, o diretor e até mesmo o pipoqueiro da esquina o conhecem. Ele é caracterizado como a criança “D” - Desajeitada, Dispersiva e Desastrada da escola. Está em todos os lugares ao mesmo tempo, faz mil e duas coisas simultaneamente. É um terror!

Nas reuniões bimestrais você já vai esperando ouvir as mesmas queixas: “ele é desatento, cutuca todo mundo, derruba e perde coisas, fala junto com as pessoas, atrapalha o bom andamento da dinâmica da classe, não ouve, apresenta dificuldades para se relacionar em grupo e apresenta baixo rendimento escolar”.

Assim, com estes constantes dados, você aguarda um novo convite para que procure outra escola “uma menor, que tenha mais condições para ele se adaptar e acompanhar o processo de escolaridade”. O que fazer?

Em casa não é diferente, ele não consegue se fixar em nenhuma atividade e poucas vezes consegue terminar alguma. Quando brinca também não se mantém por um tempo maior, se desinteressa e já está a procura de outra coisa. Se participa de uma dinâmica de grupo quer mandar, quer determinar as regras e acaba sendo rejeitado pelos colegas, principalmente os da escola.

Seu quarto é um caos, barbariza os irmãos e empregados, resiste às regras, não obedece com facilidade. Você e o pai já não sabem mais como lidar com ele, por vezes sentem que perderam o controle da situação, além de serem taxados de ausentes e de não colocarem limites no filho.

E o filho, essa pilha alcalina, essa antena parabólica, que age e pensa de forma impulsiva, que está em vários lugares ao mesmo tempo, que quando se dispõe a fazer suas tarefas escolares, retira da mochila um material desorganizado, incompleto e parecendo vir de alguma guerra, inicia sua batalha diária.

A luta já começa para se sentar, depois de horas tentando se organizar, depois de longas batalhas com os lápis, cadernos e pedaços de livros, depois de tê-los derrubado milhões de vezes, acaba cansado e desistindo de fazer suas tarefas - desistindo, ele e todos que se propõe a auxiliá-lo!

Suas emoções sempre tão intensas, ele ama e odeia na mesma proporção, as reações extremadas, tudo o que vivencia parece não ter parâmetros, arrisca-se com facilidade, não tem medo e sempre precisou ser mais vigiado.
Se esta situação é uma constante na vida de um jovem, se o comportamento não acontece como fator decorrente de algum conflito emocional ou por desajuste familiar que esteja passando, podemos estar diante de um quadro que a Ciência classifica como TDAH, ou seja, este indivíduo pode estar sofrendo de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Ajuriaguerra aponta que enquanto este processo permanece no limiar do voluntário, seu desenvolvimento é irregular e forçado; quando se automatiza, a leitura e a escrita se tornam fáceis, livres e muito rápidas.

Importante pontuar que os pais quando falam sobre hiperatividade de seus filhos, podem estar tendo como referenciais os irmãos ou outras crianças conhecidas, e entender que crianças cheias de energia, ou com falta de limites ou extrovertidas sejam hiperativas, o que não é real. A escola também pode estar comparando com modelos idealizados de alunos ou com os mais atentos e comportados da classe, estes sinais normalmente não caracterizam uma situação patológica, mas maturacional e/ou sóciocultural.

Já uma criança nitidamente bem dotada e que apesar de apresentar um nível de inteligência normal e por vezes até superior, que apresenta estes sinais em seu comportamento desde pequena, que começa a sofrer desajustes na sociabilização e baixo rendimento escolar, percorre um caminho conhecido, realmente pode ser portadora desta síndrome.

Ela passa a sofrer frustrações e ser punida pelos familiares, pelos professores e pela sociedade que exige uma correspondência mais adequada, passa ainda a sofrer rejeições das pessoas com as quais se relaciona e começa a se defender destes conflitos se isolando ou agredindo o meio.

Na escola observam-se dificuldades em seu processo acadêmico, não acompanha a classe, denota baixo rendimento escolar, decorrendo em sérios prejuízos em sua vida acadêmica.

Sua atenção não se foca num determinado estímulo, dentre os vários externos (os ruídos de um carro passando, a mosca que passeia...) e os internos (fome, sono...). Para esse indivíduo uma atividade desinteressante que exija concentração, disciplina e método, causa-lhe extremo desconforto, exaurindo sua energia para manter o controle mental sobre a atenção.

Esta criança não consegue executar uma tarefa inteira, deixa as atividades inacabadas, paradoxalmente pode se envolver com atividades estimulantes como os vídeo games, computador ou TV e nestas faz hiperfoco, ficando horas e demonstrando dificuldades para responder quando o chamam, tão entretido está.

A autoestima devido aos fracassos vivenciados fica afetada, ele mesmo se julga incapaz e incompetente, reagindo, em alguns momentos, agressivamente ao meio; projetando neste a responsabilidade por seus infortúnios. O grande círculo está formado. A criança se defende deste conflito, levando-a muitas vezes à evasão escolar.

Nos EUA o consenso atual da opinião dos especialistas sugere que a prevalência dos transtornos é de 3,8 a 7,4% da população infantil tenha TDAH (American Psychiatric Association, 2.000) e estimativas semelhantes de prevalência foram encontradas no Canadá (Québec), na Nova Zelândia, na Alemanha e no Brasil (Barkley & Cols, 2008)

Os diagnósticos clínicos não o classificam como doença, não há corpo teórico de que os indivíduos que sofram desta disfunção tenham qualquer lesão cerebral ou em qualquer outro órgão; isto significa que sendo submetida a um eletroencefalograma, nada de anormal será constatado.

Segundo Dr. Abram Topczewski (em seu livro “Hiperatividade, como lidar”, pgs. 37/38), “considera-se haver um desequilíbrio neuroquímico cerebral, provocado pela produção insuficiente de neurotransmissores (dopamina, noradrenalina) em certas regiões do cérebro (região parietal posterior, sistema límbico, região frontal e sistema reticular ascendente), que são responsáveis pelo estado de vigília, atenção e pelo controle das emoções”.

Esta desorganização bioquímica leva a alterações neurofisiológicas que acarretam alterações do sono, comportamento agressivo, impulsivo, depressivo e os distúrbios de atenção, que podem estar associados ao quadro da hiperatividade.

Temos ainda de acordo com Dr. Haim Gruspun (em seu livro Crianças e Adolescentes, capítulo Transtornos Hipercinéticos - Hipertividade), que “a prevalência é de 1% a 3% nos critérios da CID-10 e do DSM-IV, com incidência de 3:1 nos homens, tendo como características associadas mais comuns: a perturbação da atividade e atenção, conduta delinquencial com agressividade, conduta desafiante e práticas anti-sociais, problemas com relacionamento social, desinibição no trato com adultos, sendo muito familiar e atrevido, transtornos de aprendizagem e inabilidade motora e imaturidade no desenvolvimento neurológico”.

Os sintomas indicadores de Déficit de Atenção e Hiperatividade são:
• na escola começa a ter dificuldades de adaptação no convívio social e baixo rendimento escolar.
• não consegue fixar sua atenção pelo tempo que cada atividade exige, é dispersivo, pouca concentração principalmente quando está acompanhado - não foca, não se fixa.
• pouco interesse nas atividades, não se envolve efetivamente com quase nada.
• muda o foco de intenção, altera as atividades que executa, dificilmente termina o que começa.
• grande mobilidade motora, agitação associada ou não à agitação mental.
• impulsividade, “age e depois pensa”.
• destrutividade, tudo que possui acaba quebrando por inabilidade, desleixo ou curiosidade de saber como funciona.
• emoções e reações exacerbadas
• não conseguem responder às instruções, seguir regras, resistem.
• fala compulsiva, não conversam, mudam de assunto com facilidade e parecem não ouvir.
• desorganizadas
• arrisca-se muito, parece não ter medo.
• vive à mercê de vários estímulos, qualquer coisa lhe desvia a atenção.
• interrompe ou se intromete nas atividades dos outros.
• pode comer exageradamente.

Os indivíduos que manifestam estes sintomas, dissociados de outros elementos favorecedores, merecem ser avaliados pelo médico neurologista ou psiquiatra para que possa ter um diagnóstico efetivo e, sendo realmente constatado o DHDA, caso julgue necessário, o médico poderá optar pelo tratamento medicamentoso; o que normalmente ajuda a criança a melhorar seu relacionamento familiar e social, bem como auxiliar nos demais tratamentos que forem indicados. Deve ainda passar por um psicólogo ou psicopedagogo a fim de que seja verificado seu aspecto afetivo-emocional e processo de aprendizagem, para posterior atendimento, que favorecerão o apoio e recursos para resgate de suas habilidades instrumentais deficitárias e desenvolver sua pouca capacidade para organização, disciplina e método de trabalho.

A instituição escola é ponto fundamental neste contexto, já que poderá ser continente para a evolução e continuidade do processo que estes jovens passam, ou sendomais um dos fatores prejudiciais. Ela deve adequar seu conteúdo programático e metodológico às reais necessidades de seus alunos, deve estar ciente e consciente das necessidades básicas primárias deles, para que realmente cumpra sua função de educar, juntamente com a família e os profissionais envolvidos.

A orientação à família é fundamental neste processo, para que possa ser continente a esta criança, para que possa saber como lidar com ela sem rejeições e agressividade, ou ainda sendo permissivas, ou preservando-se e expondo este ser já fragilizado (e por isso mesmo) como o depositário dos problemas da engrenagem familiar.


Tânia Freitas
tania@abcdislexia.com.br
Fonte ABCDislexia



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