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quinta-feira, 14 de julho de 2011

De educador para educador


Nos tempos atuais, uma das tarefas mais complicadas e desafiadoras é a de ser educador - sejamos nós professores ou pais. Por mais que nos preparemos, o mundo da Educação - principalmente a básica - parece ser um dos terrenos mais acidentados e escorregadios pelos quais temos de caminhar. E isto porque nosso educando, a quem devemos prover informação e formação, apresenta-se sempre como um ser misterioso e complexo, apesar de toda experiência ou formação que possamos ter. E duas razões contribuem para isso.

Em primeiro lugar, trata-se de um indivíduo que, via de regra, tem trajetórias de vida e construção de conhecimento bem diferentes das nossas. Além disso, não podemos negar, é alguém que possui um rol de habilidades desconhecidas para nós, e das quais nem sempre nos damos conta quando nos propomos a apresentar-lhe o mundo e sua dinâmica. Tem características peculiares e nem sempre estamos atentos a elas o suficiente.

O mundo em que vive lhe proporciona estímulos muito mais variados e em quantidades bem maiores do que já pudemos experimentar. Sua percepção das coisas e sua criatividade parecem fluir muito mais fartamente, se bem que de maneira muitas vezes caóticas e desordenadas. O sentido que dão ao conhecimento não coincide com o nosso os objetos de interesse e curiosidade também se distanciam sobremaneira dos nossos. Tudo isso, sem falar na farta influência tecnológica que suas relações pessoais e seu trajeto de descoberta apresenta. E o corolário disso tudo é, sem dúvida, uma maneira imediatista e impaciente de ser.

E, a partir daí, nos vem a sensação angustiante de estarmos sempre correndo atrás de nosso aluno ou filho, o qual não só aparenta transformar-se num ritmo alucinante como até nos dá a impressão de ajudar a ditar a velocidade dessas transformações no mundo. E as maiores dificuldades que advêm disso tudo estão em fazê-lo interessar-se pelo conhecimento acadêmico e valorizar o profundo em sua vida. Afinal, para quem parece conseguir muito rapidamente lazer, informação e respostas para quase tudo que procura, de que importarão obras clássicas, conceitos implícitos em fenômenos naturais e a própria reflexão acerca do ser humano?

E, em face dessa realidade, muitos de nós acabamos por nos acomodar com essa toada e passamos a dar a ele apenas essa visão imediata e respostas diretas, funcionais e práticas daquilo que parece necessitar. Acabamos por nos limitar a seguir suas demandas e tornamos nosso trabalho mais pobre e superficial. Nos acomodamos e mantemos a inércia da roda viva que nem sequer desejamos. Nosso educando acaba se afastando cada vez mais da profundidade do saber e da excelência.

Temos, porém, de atentar para o fato de que o mundo complexo em que vivemos não pode prescindir de uma visão abrangente e profunda. Nunca isso foi tão importante, apesar de que nunca se negou tão veementemente tal necessidade. Se desprezamos o saber conceitual e profundo, vivendo pela e para a funcionalidade, o mundo de nossos educandos, e nosso, tornar-se-á aos poucos vazio de sentido e nossos sonhos despencarão de vez. Tornaremo-nos pessoas cuja satisfação pessoal estará atrelada apenas ao que excita nossos sentidos mais primitivos e irracionais.

É preciso que entendamos que o mundo luminoso e tecnologizado em que vivemos pode ser muito melhor percebido, apreendido e – por que não? – gozado por nós se a nossa visão contiver o conhecimento clássico, artístico, científico e filosófico acumulado em milênios de história humana. Não creio que possamos perceber a beleza maior de uma superprodução cinematográfica ou mesmo apreciarmos uma iguaria ou um bom vinho sem termos bebido nas fontes de um Michelangelo, de um Da Vinci ou de um Shakespeare. Como perceber a verdadeira importância de uma grande descoberta da medicina ou da engenharia sem entendermos o que foram para a humanidade um Paracelso ou um Galileu? O conhecimento que nos trouxe o conforto e a beleza que podemos ter em nosso tempo não surgiu magicamente: foi tramado e construído pelas inúmeras gerações que nos antecederam. É isso mesmo: até o prazer e o lazer podem ter um sabor mais agradável e sofisticado. Isso tudo, sem falar das necessidades humanas de hoje, que não serão sequer percebidas em sua dramaticidade e necessidade sem um referencial estruturado pela cultura humana.

E o que fazer para que nosso jovem perceba, ou, ao menos, desconfie de que o mundo em que vive tem muito, muito mais do que podemos perceber à primeira vista? Como tocá-lo? De que forma podemos fazê-lo abrir mão de um ou outro momento de lazer para que se dedique de fato a conhecer o mundo – e não apenas preparar-se para tirar boas (ou suficientes) notas para passar de ano? Como provocar reflexões? Como provocá-los?

Essas e outras questões, intrigantes, insinuantes e desafiadoras, parecem nos assaltar sempre que nos olhamos no espelho e percebemos que somos mais do que meros reprodutores do mundo em que vivemos. Somos feito arquitetos do futuro. E nosso educando é o protagonista maior desse tempo que está por vir. O que será dele? O que será do mundo que estamos ajudando a projetar?


Prof. João Luiz muzinatti
joao@abcdislexia.com.br
Fonte ABCDislexia

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