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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A influência dos hábitos orais no desenvolvimento da criança


É bastante comum em crianças a presença de hábitos ligados à região da boca, tais como sucção de chupeta, mamadeira, dedo, roer unhas ou colocar objetos.
Em geral esses comportamentos são tolerados ou até incentivados pelos adultos, que os utilizam como forma de acalmar ou entreter a criança, sem muitas vezes se darem conta do que eles significam no desenvolvimento infantil.
É sabido que, no início da vida, a criança tem uma necessidade de sucção, que geralmente é suprida através da alimentação, isto quando a criança é amamentada ou utiliza bicos de mamadeira ortodônticos, com furos apropriados, que estimulam os movimentos musculares da língua, dos lábios e das bochechas e visam aproximar esta movimentação àquela que ocorre quando a criança suga o seio; contudo, mesmo esse tipo de bico deve ser substituído pelo copo tão logo a criança seja capaz de utilizá-lo.
Existem casos, entretanto, em que a criança habitua-se a ter na boca os objetos já citados, e, no caso específico da chupeta, muitas vezes fica somente com ela apoiada sobre a língua, sem sugá-la, o que pode alterar todo o equilíbrio muscular da face, na medida em que deixa a boca freqüentemente aberta e a língua geralmente solta no assoalho da boca. Nesses casos, ocorre também alteração no tônus muscular das bochechas e no padrão respiratório , já que a criança passa a respirar pela boca, ao invés de utilizar o nariz, o que pode afetar inclusive sua saúde, tornando-a mais suscetível a diversos problemas, dentre eles os pulmonares. O contrário também pode ocorrer, isto é, crianças com problemas respiratórios, tais como rinites, podem desenvolver um padrão de respiração bucal, devido à freqüente obstrução nasal.
O desequilíbrio muscular gerado por esses fatores pode levar a problemas na posição dos dentes ou na oclusão das arcadas dentárias e a dificuldades na produção dos sons da fala. Existe também a possibilidade de a criança apresentar alterações na forma de mastigar e engolir os alimentos, o que pode levar a problemas gastrointestinais, inclusive.
Abordando a fala, sabemos que, para pronunciar os sons, utilizamos muitos dos órgãos usados na alimentação, tais como lábios, língua, dentes, bochechas. Essas estruturas são preparadas, desde os primeiros dias de vida, para a articulação dos fonemas, através da alimentação e do trabalho muscular realizado através dela. Sendo assim, uma criança que tenha tido um padrão de alimentação adequado, sem “maus hábitos orais” e livre de problemas físicos, mentais, emocionais ou ambientais, tende a ter um bom desenvolvimento da fala.
Contudo, uma criança com alterações nesses aspectos pode desenvolver formas de mastigação alteradas, tais como: mastigar pouco, mastigar de um lado só, amolecer o alimento com a língua em vez de utilizar os dentes para triturá-lo, etc. Assim sendo, os músculos faciais e a musculatura da língua não são exercitados adequadamente e podem não corresponder ao trabalho solicitado na pronúncia da fala.
Muitas vezes, a criança também engole os alimentos e a saliva com posicionamento inadequado da língua, exercendo pressão sobre os dentes, hábito que geralmente não é percebido ou é encarado como passageiro, mas que pode alterar a musculatura e ocasionar, dentre outras alterações, dificuldades na pronúncia da fala, principalmente dos sons que requerem movimentação da ponta da língua, tais como “t”, “d”, “n”, “r” ( da palavra “cara” ou da palavra “trem”), “l”, “s” e “z”.
É possível também que a criança tenha problemas físicos, hereditários, de nascença ou adquiridos durante seu desenvolvimento, que impeçam inclusive a alimentação normal, ou o desenvolvimento da fala. Podem ocorrer também problemas emocionais que façam com que ela mantenha um padrão infantilizado e necessite utilizar objetos buscando uma satisfação oral, ou ainda que viva em um ambiente que estimule sua manutenção mais infantil, estimulando o uso desses objetos.
Perceber essas alterações, buscar suas causas, prevenir ou sanar seus efeitos é importante para o desenvolvimento da criança, pois essas dificuldades, se não trabalhadas, podem acompanhar a pessoa por toda a vida, sendo comuns alterações de fala em adultos, decorrentes de hábitos orais utilizados na infância e que afetam sua relações pessoais e profissionais, já que um bom padrão de fala é algo bastante valorizado, sendo inclusive fator de exclusão do mercado de trabalho em algumas profissões.

Por Tânia Bello
Psicopedagoga
Fonoaudióloga