Em entrevista à Crescer, a neuropediatra e médica geneticista Iara Brandão falou sobre os desafios que as pessoas no transtorno do espectro autista enfrentam e o que a ciência tem feito para superá-los
Neste
domingo (2 de abril), celebra-se o Dia Mundial do Autismo. Antes um assunto
pouco discutido, o transtorno
do espectro autista tem
sido desmistificado e ganhado visibilidade em filmes como Life,
Animated,
documentário indicado ao Oscar sobre um menino com a condição que
usava os filmes da Disney para compreender o mundo ao seu redor e a
série Sherlock,
da BBC, em que o protagonista já admitiu ter Síndrome de Asperger,
uma condição neurológico do espectro autista. Porém, muitas
questões ainda permanecem sem resposta e é a ciencia que tem se
dedicado em resolver seus mistérios. A neuropediatra e médica
geneticista Iara Brandão falou sobre os avanços dos estudos neste
campo em entrevista a CRESCER:
Como
é feito o diagnóstico do autismo hoje?
Ainda
não existe um exame laboratorial capaz de confirmar uma hipótese
diagnóstica de autismo. Até o momento, o que se pode realizar é
uma análise de características clínicas com utilização de
protocolos padronizados internacionalmente e validados para versões
em português. Além disso, é possível investigar causas
relacionadas ao comportamento autista como Síndrome do Cromossomo X Frágil, déficits auditivos e visuais e outras síndromes genéticas.
A avaliação neuropsicológica de indivíduos investigados com
hipótese diagnóstica de Transtorno do Espectro Autista (TEA)
possibilita mapear perfis de habilidades e inabilidades cognitivas de
modo a completar o diagnóstico clínico, auxiliando no planejamento
de intervenções adequadas a cada caso.
O que tem sido feito nessa área?
O que tem sido feito nessa área?
Todo
o esforço das pesquisas recentes está na direção de entender
etapas do desenvolvimento neural a partir de células do próprio
paciente –células tronco pluripotentes, originadas de células
adultas de pele ou sangue, obtidas por meio de tecnologias modernas
de edição do genoma humano e dando origem a cérebros feitos em
laboratório, chamados organoides. Utilizando estes minicérebros, os
pesquisadores procuram entender como uma mutação no indivíduo
causa um quadro clínico especifico, com objetivo de buscar formas de
reverter o processo com tratamentos farmacológicos. As
características únicas do cérebro humano podem ser algumas das
razões para os estudos com roedores não terem resultados em
terapias efetivas para distúrbios cerebrais como o autismo,
epilepsia e outros. Esses organoides permitem testar os tipos e
quantidades de medicamentos contribuindo para tratamentos
personalizados.
O
que é o Transtorno do Espectro Autista?
Oficialmente,
o autismo é chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é um
distúrbio global e precoce do neurodesenvolvimento. Ele altera as
capacidades do indivíduo de interagir com o meio, por afetar três
áreas importantes do desenvolvimento de uma pessoa: a comunicação,
a socialização e o comportamento. Pode se apresentar em níveis
diferentes de comprometimento, daí o nome espectro.
Poderia
falar um pouco sobre cada um dos principais tipos de autismo?
No
autismo clássico, o grau de comprometimento varia. Estão nesta
categoria os autistas que não estabelecem contato visual e conseguem
falar, mas não usam a fala no sentido pragmático. A compreensão é
limitada e eles aprendem o sentido literal das palavras. Nas formas
mais graves, os pacientes não falam e não estabelecem contato
visual e apresentam movimentos estereotipados. Tem também o autista
de alto desempenho. Nesse caso, as dificuldades frequentemente são
as mesmas dos outros autistas, porém, em menor medida. São verbais
e com inteligência preservada. Alguns apresentam ilhas de excelência
ou seja, podem se destacar com desenvoltura em áreas específicas do
conhecimento. Quanto melhor a interação social, mais próxima da
normalidade segue a vida. Finalmente, o transtorno global do
desenvolvimento é parte do TEA, com dificuldade nos domínios da
comunicação e interação social. No entanto, os sintomas não são
suficientes para pertencerem aos quadros anteriormente citados.
Com
os tratamentos que já existem, quais as perspectivas para crianças
que nascem autistas?
Existe um reconhecimento maior por parte da comunidade médica e profissionais da área de saúde para o TEA, o que favorece o diagnóstico precoce em boa parte dos casos. A evolução do quadro clínico é muito diversificada e o que se pode afirmar é que a grande maioria das crianças progride com a dinâmica das terapias intensivas. Mas, no estado atual dos conhecimentos, a maior parte das crianças não chega a fazer os sintomas desaparecerem, apesar das terapias interdisciplinares com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
Existe um reconhecimento maior por parte da comunidade médica e profissionais da área de saúde para o TEA, o que favorece o diagnóstico precoce em boa parte dos casos. A evolução do quadro clínico é muito diversificada e o que se pode afirmar é que a grande maioria das crianças progride com a dinâmica das terapias intensivas. Mas, no estado atual dos conhecimentos, a maior parte das crianças não chega a fazer os sintomas desaparecerem, apesar das terapias interdisciplinares com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
Eles
conseguem atingir independência na vida adulta, se forem devidamente
estimulados?
Quanto mais cedo for identificado o transtorno, mais as técnicas terapêuticas e pedagógicas deixarão a criança próxima da autonomia nas atividades de vida diária. É importante lembrar que somente em casos mais raros o autismo é incapacitante.
Quanto mais cedo for identificado o transtorno, mais as técnicas terapêuticas e pedagógicas deixarão a criança próxima da autonomia nas atividades de vida diária. É importante lembrar que somente em casos mais raros o autismo é incapacitante.
Considerando
as pesquisas atuais, quais você acredita que serão as principais
descobertas sobre TEA nos próximos anos?
Hoje,
o autismo não tem cura, porém, pesquisas recentes estão mostrando
avanços nos estudos com células-tronco das próprias crianças
autistas, com objetivo de diferenciá-las em neurônios para
reconstrução de minicérebros por meio de reprogramação celular,
o que deve promover alvos para terapias moleculares.
A
comunidade científica está mais focada a pesquisar que aspectos
dessa condição?
Há estudos avançados usando fator de crescimento de insulina (IGF1) já em fase final de testes para tratamento de algumas síndromes com comportamento autista, como por exemplo a Síndrome de Rett e para alguns tipos de autismo. Tratamentos futuros poderão ser administrados em fases precoces da maturação cerebral para diminuir o impacto do autismo ou até interromper seu desenvolvimento.
Há estudos avançados usando fator de crescimento de insulina (IGF1) já em fase final de testes para tratamento de algumas síndromes com comportamento autista, como por exemplo a Síndrome de Rett e para alguns tipos de autismo. Tratamentos futuros poderão ser administrados em fases precoces da maturação cerebral para diminuir o impacto do autismo ou até interromper seu desenvolvimento.
Por
Juliana Malacarne
Fonte:
Crescer
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