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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Dia do autismo: especialista fala sobre avanços científicos

Em entrevista à Crescer, a neuropediatra e médica geneticista Iara Brandão falou sobre os desafios que as pessoas no transtorno do espectro autista enfrentam e o que a ciência tem feito para superá-los



Neste domingo (2 de abril), celebra-se o Dia Mundial do Autismo. Antes um assunto pouco discutido, o transtorno do espectro autista tem sido desmistificado e ganhado visibilidade em filmes como Life, Animated, documentário indicado ao Oscar sobre um menino com a condição que usava os filmes da Disney para compreender o mundo ao seu redor e a série Sherlock, da BBC, em que o protagonista já admitiu ter Síndrome de Asperger, uma condição neurológico do espectro autista. Porém, muitas questões ainda permanecem sem resposta e é a ciencia que tem se dedicado em resolver seus mistérios. A neuropediatra e médica geneticista Iara Brandão falou sobre os avanços dos estudos neste campo em entrevista a CRESCER:

Como é feito o diagnóstico do autismo hoje?
Ainda não existe um exame laboratorial capaz de confirmar uma hipótese diagnóstica de autismo. Até o momento, o que se pode realizar é uma análise de características clínicas com utilização de protocolos padronizados internacionalmente e validados para versões em português. Além disso, é possível investigar causas relacionadas ao comportamento autista como Síndrome do Cromossomo X Frágil, déficits auditivos e visuais e outras síndromes genéticas. A avaliação neuropsicológica de indivíduos investigados com hipótese diagnóstica de Transtorno do Espectro Autista (TEA) possibilita mapear perfis de habilidades e inabilidades cognitivas de modo a completar o diagnóstico clínico, auxiliando no planejamento de intervenções adequadas a cada caso.

O que tem sido feito nessa área?
Todo o esforço das pesquisas recentes está na direção de entender etapas do desenvolvimento neural a partir de células do próprio paciente –células tronco pluripotentes, originadas de células adultas de pele ou sangue, obtidas por meio de tecnologias modernas de edição do genoma humano e dando origem a cérebros feitos em laboratório, chamados organoides. Utilizando estes minicérebros, os pesquisadores procuram entender como uma mutação no indivíduo causa um quadro clínico especifico, com objetivo de buscar formas de reverter o processo com tratamentos farmacológicos. As características únicas do cérebro humano podem ser algumas das razões para os estudos com roedores não terem resultados em terapias efetivas para distúrbios cerebrais como o autismo, epilepsia e outros. Esses organoides permitem testar os tipos e quantidades de medicamentos contribuindo para tratamentos personalizados.

O que é o Transtorno do Espectro Autista?
Oficialmente, o autismo é chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é um distúrbio global e precoce do neurodesenvolvimento. Ele altera as capacidades do indivíduo de interagir com o meio, por afetar três áreas importantes do desenvolvimento de uma pessoa: a comunicação, a socialização e o comportamento. Pode se apresentar em níveis diferentes de comprometimento, daí o nome espectro.

Poderia falar um pouco sobre cada um dos principais tipos de autismo?
No autismo clássico, o grau de comprometimento varia. Estão nesta categoria os autistas que não estabelecem contato visual e conseguem falar, mas não usam a fala no sentido pragmático. A compreensão é limitada e eles aprendem o sentido literal das palavras. Nas formas mais graves, os pacientes não falam e não estabelecem contato visual e apresentam movimentos estereotipados. Tem também o autista de alto desempenho. Nesse caso, as dificuldades frequentemente são as mesmas dos outros autistas, porém, em menor medida. São verbais e com inteligência preservada. Alguns apresentam ilhas de excelência ou seja, podem se destacar com desenvoltura em áreas específicas do conhecimento. Quanto melhor a interação social, mais próxima da normalidade segue a vida. Finalmente, o transtorno global do desenvolvimento é parte do TEA, com dificuldade nos domínios da comunicação e interação social. No entanto, os sintomas não são suficientes para pertencerem aos quadros anteriormente citados.

Com os tratamentos que já existem, quais as perspectivas para crianças que nascem autistas?
Existe um reconhecimento maior por parte da comunidade médica e profissionais da área de saúde para o TEA, o que favorece o diagnóstico precoce em boa parte dos casos. A evolução do quadro clínico é muito diversificada e o que se pode afirmar é que a grande maioria das crianças progride com a dinâmica das terapias intensivas. Mas, no estado atual dos conhecimentos, a maior parte das crianças não chega a fazer os sintomas desaparecerem, apesar das terapias interdisciplinares com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
Eles conseguem atingir independência na vida adulta, se forem devidamente estimulados?
Quanto mais cedo for identificado o transtorno, mais as técnicas terapêuticas e pedagógicas deixarão a criança próxima da autonomia nas atividades de vida diária. É importante lembrar que somente em casos mais raros o autismo é incapacitante.

Considerando as pesquisas atuais, quais você acredita que serão as principais descobertas sobre TEA nos próximos anos?
Hoje, o autismo não tem cura, porém, pesquisas recentes estão mostrando avanços nos estudos com células-tronco das próprias crianças autistas, com objetivo de diferenciá-las em neurônios para reconstrução de minicérebros por meio de reprogramação celular, o que deve promover alvos para terapias moleculares.
A comunidade científica está mais focada a pesquisar que aspectos dessa condição?
Há estudos avançados usando fator de crescimento de insulina (IGF1) já em fase final de testes para tratamento de algumas síndromes com comportamento autista, como por exemplo a Síndrome de Rett e para alguns tipos de autismo. Tratamentos futuros poderão ser administrados em fases precoces da maturação cerebral para diminuir o impacto do autismo ou até interromper seu desenvolvimento.

Por Juliana Malacarne
Fonte: Crescer

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