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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Processamento Auditivo


A avaliação e a (re)habilitação do Processamento Auditivo (PA) têm sido tema de debate, a medida que a procura por esses serviços aumentou significativamente nos últimos anos. Profissionais da fonoaudiologia e de áreas afins como a psicopedagogia, a neurologia e a pediatria, bem como pais e professores procuram cada vez mais por informação sobre a função auditiva central. O objetivo deste artigo é fornecer informações básicas e essenciais a respeito do processamento auditivo.

O que é Processamento Auditivo?

Processamento Auditivo (PA)é o conjunto de processos e mecanismos que ocorrem dentro do sistema auditivo em resposta a um estímulo acústico e que são responsáveis pelos seguintes fenômenos: localização e lateralização do som, discriminação e reconhecimento de padrões auditivos, aspectos temporais da audição, incluindo resolução, mascaramento, integração e ordenação, performance auditiva com sinais acústicos competitivos e com degradação do sinal acústico (ASHA, 1995).

Características dos indivíduos com Transtorno do PA
  • dificuldade em compreender a fala na presença de ruídos e/ou em grupos;    
  • tempo de atenção curto;  
  • ansiedade e estresse quando escuta;
  • facilmente distraído;
  • dificuldade em seguir direção;
  • dificuldade para lembrar informações auditivas;
  • pior habilidade de fala, linguagem escrita e/ou leitura;
  • comportamento impulsivo;
  • dificuldade de organização e seqüencialização de estímulos verbais e não-verbais;
  • utilização de pistas visuais para compreender a mensagem falada;        
  • tempo de latência aumentado para emissão de respostas;    
  • respostas inconsistentes aos estímulos auditivos recebidos.
Um transtorno no processamento auditivo só pode ser detectado por meio de testes específicos que avaliem a função auditiva central.

A queixa mais característica do transtorno do processamento auditivo, entretanto, é a dificuldade para ouvir em ambientes acústicos desfavoráveis (ruidosos, com vários interlocutores ou com distorção da mensagem falada), na presença de avaliação audiológica básica dentro da normalidade.

Bateria de Testes Comportamentais que Avaliam o PA       
  • Monaurais de baixa redundância: avaliam a habilidade do ouvinte de realizar o fechamento auditivo, a figura-fundo e a discriminação quando uma parte do sinal auditivo está distorcida ou ausente (redundância extrínsica reduzida, isto é, a redundância do sinal de fala está diminuída em virtude da modificação das características do sinal de fala).. Exemplos: Teste de Fala no Ruído, PSI -Teste Pediátrico de Inteligibilidade de Fala com Mensagem Competitiva Ipsilateral, SSI – Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas, Teste de Fala Filtrada.
  • Dicóticos: envolvem a apresentação de estímulos diferentes simultaneamente às duas orelhas. Avaliam a integração e a separação binaural, ou seja, a habilidade do ouvinte para repetir tudo o que ouviu ou para dirigir a atenção para uma só orelha. Exemplos: SSW – Teste de Dissílabos Alternados; Dígitos Dicóticos; CES - Sons Ambientais Competitivos.    
  • Processamento Temporal: avaliam as habilidades auditivas de ordenação, discriminação, resolução e integração temporal.. Exemplos: PPST – Teste de Reconhecimento do Padrão de Freqüência; DPST – Teste de Reconhecimento do Padrão de Duração; RGDT – Teste de Detecção de Intervalo Aleatório.
  • Interação Binaural: avaliam a habilidade do sistema nervoso auditivo central para processar informação díspar, mas complementar, apresentada às duas orelhas. Diferente dos testes de escuta dicótica, as informações apresentadas à cada orelha constituem juntas a mensagem completa, necessitando a integração das duas para que o todo seja percebido.. Exemplos: MLD – Limiar Diferencial de Mascaramento; Teste de Fusão Binaural.
Avaliação eletrofisiológica

Pode ser utilizada como complemento da avaliação comportamental do PA e pode incluir os seguintes procedimentos:
  • Potenciais Auditivos Evocados do Tronco Encefálico (PAETE): medida objetiva da transmissão dos sinais acústicos no tronco cerebral. Ocorre aproximadamente até 10 milisegundos após a apresentação do estímulo.
  • Potenciais de Média Latência (MLR): medida objetiva da transmissão dos sinais acústicos na região talâmica. Ocorre aproximadamente de 10 a 90 milisegundos após a apresentação do estímulo;
  • Potenciais de Longa Latência (P300 e MMN): avaliam os centros auditivos corticais.
A Avaliação Muldisciplinar do PA

A avaliação do processamento auditivo é multidisciplinar. O médico pediatra pode auxiliar a detecção de possíveis doenças que possam causar os mesmos sintomas, bem como avaliar o crescimento e o desenvolvimento neuropsicomotor; o médico otorrinolaringologista pode determinar se o indivíduo tem um problema auditivo e indicar a avaliação audiológica quando necessário; o fonoaudiólogo especialista em audição investiga a função auditiva central por meio de testes; o fonoaudiólogo especialista em linguagem pode avaliar a compreensão e a linguagem expressiva; o psicólogo pode fornecer informações sobre problemas cognitivos ou comportamentais que possam contribuir com o quadro. As várias medidas usadas por estes e outros membros da equipe poderão sugerir processamento auditivo deficiente.

Finalidades da avaliação do PA        
  • determinar ou não a presença de habilidades auditivas deficientes;          
  • descrever os parâmetros e extensões destas alterações;
  • fornecer informações sobre o local da disfunção no sistema nervoso auditivo central, no indivíduo adulto;          
  • ressaltar as habilidades preferenciais para a aprendizagem;           
  • estabelecer diretrizes e critérios que possam auxiliar na elaboração de um programa de reabilitação.
Quem se beneficia da avaliação comportamental do PA   
  • indivíduos com idade superior a 7 anos (Beck, 2002), sendo que os testes poderiam ser aplicados com cautela na interpretação em crianças com 5 ou 6 anos;           
  • indivíduos com audição periférica suficiente, isto é, média tonal até 40dB NA com simetria de limiares entre orelhas e I.P.R.F. de no mínimo 70% e a diferença do índice entre as orelhas não exceda 20% (KATZ, 1994);           
  • indivíduos com nível de atenção que permita a realização dos testes;         
  • indivíduos com função cognitiva que permita a realização dos testes;           
  • indivíduos com habilidades de linguagem receptiva e emissiva (desenvolvimento suficiente para compreender as tarefas verbais solicitadas e produção de fala inteligível);           
  • indivíduos com integridade da orelha média.
(Re)habilitação

A (re)habilitação do indivíduo com transtorno do PA deve ser planejada e realizada por diferentes profissionais (fonoaudiólogo, neurologista, psicólogo) baseando-se nas necessidades individuais de cada paciente dependendo da natureza, das manifestações funcionais e do grau do problema. Envolve a modificação ambiental, para garantir o acesso à informação auditiva, a intervenção direta, que se trata do uso de técnicas que trabalhem as habilidades auditivas deficientes, e o uso de estratégias compensatórias, como uso de pistas visuais, contextuais e linguísticas.

Fonte: Fono e Saúde
Contribuição da Fonoaudióloga Fátima Branco-Barreiro, Doutora em Neurosciências e Compotamento e Professora Adjunta em Audiologia da UNIBAN, S.P.
E-mail para contato: fatima@branco.fnd.br


Bibliografia

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ALVAREZ,A.M.B.M.A.; CAETANO,A.L.;NASTAS,S.S. Processamento Auditivo Central: Avaliação e Diagnóstico. Fono Atual, 1 (1): 34-36, 1996.
BECK,B.R. CAPD/APD Age Restrictions. (link)
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FERRE,J.M. Processing Power. A Guide to CAPD Assessment and Management. Communication Skill Builders, San Antonio, USA, 1997.
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