Saiba como é feito o diagnóstico e o tratamento desta má formação congênita, chamada de fissura labiopalatal pelos especialistas
A cada 650 bebês brasileiros, um nasce com fissura lábio-palatal, também uma má formação congênita que provoca aberturas nos lábios e no céu da boca, o palato. O dado é da Organização Mundial da Saúde e mostra que o problema, chamado popularmente de lábio leporino, é uma realidade em nosso país. CRESCER conversou com o cirurgião plástico Nivaldo Alonso, que é diretor médico da Operação Sorriso, ONG internacional que opera crianças fissuradas gratuitamente, e coordenador da equipe de Cirurgia Craniomaxilofacial do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofacial de Bauru-USP, o Centrinho. Veja a entrevista completa e tire suas dúvidas.
CRESCER: Como é o diagnóstico?
Nivaldo Alonso: A fissura acontece entre a 4a e a 12a semana de gestação e a partir do terceiro mês já é possível identificá-la com um ultrassom. Nos primeiros meses o diagnóstico não é muito preciso, mas dependendo da posição do bebê no útero já dá para visualizar a fissura labial. Se for palatina, no céu da boca, é mais difícil, mas se o bebê tiver o lábio e o palato aberto é possível. Quando a fenda é apenas no palato fica mais difícil e o diagnóstico é feito apenas depois que a criança nasce.
C: O que pode ser feito na gestação depois que os pais descobrem a má formação?
N.A.: O principal é dar apoio psicológico à mãe. Não existem evidências hoje de que é possível fazer uma correção intra-uterina durante a gestação. Houve tentativas, mas nenhum método desenvolvido teve sucesso. Então, uma vez feito o diagnóstico, é importante dar suporte para mãe e para a família. Como a gravidez e o nascimento de um filho é um momento muito especial, uma festa, é preciso preparar os pais para essa característica diferente do bebê.
C: E assim que o bebê nasce, quais são os procedimentos necessários?
N.A.: Mais uma vez é preciso dar orientação aos pais de como receber e cuidar dessa criança, porque é tudo diferente, principalmente a alimentação. A posição do bebê durante a amamentação, o tempo e a frequência da mamada, todos esses fatores são diferentes. A fissura no céu da boca, por exemplo, faz com que entre mais ar do que o normal durante a mamada, então o bebê mama pouco, porque fica satisfeito rápido, mas logo tem fome de novo. O tempo da mamada é menor e a frequência é maior. Depois que o bebê nasce, é feita uma avaliação clínica completa para identificar se há outros sinais e sintomas associados àquela fissura. Ela pode estar associada a uma má formação cardíaca, por exemplo, ou a alguma síndrome de deformidade facial com outras implicações além das fendas. A criança também será acompanhada por pediatras, pois ela pode apresentar otite e outras inflamações na tuba auditiva, que liga o ouvido à faringe, já que o mecanismo não funciona corretamente.
C: Quando pode ser feita a cirurgia de correção?
N.A.: O momento ideal para operar a fenda labial é entre três e seis meses, isso se o bebê estiver com um bom desenvolvimento, dentro do peso ideal e com boa condição clínica. Já o palato é fechado entre 12 e 18 meses, quando a criança começa a articular as primeiras sílabas.
C: Quantas cirurgias são necessárias?
N.A.: Entre três e cinco. Depende do tipo de fissura, que pode ser apenas labial, apenas palatina ou as duas.
C: Quais são as possíveis causas das fissuras labiopalatais?
N.A.: Essa é uma história bem longa, mas resumindo o modelo que é muito estudado hoje é de que é um problema multifatorial, ou seja, com causas genéticas e ambientais. Isso porque é uma má formação genética e a presença nos pais aumenta as chances de que os filhos também tenham, mas há questões ambientais que aumentam incidência dessa deformidade. Estudos já mostraram, por exemplo, que existe um fator étnico muito grande: o problema aparece mais em etnias amarelas do que em negras. Alguns trabalhos mostram também uma incidência diferente conforme a região, o que sugere uma influência geográfica. Outros fatores são todas e quaisquer infecções durante o primeiro mês de gravidez e o uso de cigarro e álcool durante a gestação. A relação não é diretamente causal, ou seja, nem todas as tabagistas e alcoólicas terão filhos com fissuras, mas existem trabalhos que mostram uma associação nessas situações. O uso de anticonvulsivante e ácido retinóico e a exposição à radiação (radioterapia, radiografia e tomografia, por exemplo), também aumentam os riscos.
C: E o que os pais podem fazer para tentar prevenir essa má formação?
N.A.: As precauções são as mesmas necessárias em qualquer gravidez. A mãe deve fazer um bom pré-natal, com todos os exames, e estar imunizada contra todas as doenças. O que recomendamos é o uso de vitaminas, mas é preciso tomar cuidado com a dosagem. Ao mesmo tempo em que estudos mostraram que o uso de vitaminas ajuda no desenvolvimento neurológico, o excesso de Vitamina A pode aumentar as chances de o bebê nascer com fissuras labiopalatais. Ainda não é nada comprovado, e como é um problema multifatorial, os estudos precisam ser bem conduzidos para podermos afirmar com certeza.
Por Fernanda Carpegiani
Fonte Revista Crescer
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