Aprendizado dos pronomes, a criança derrapa no uso do "eu", mas sabe muito bem quem é ela
Quando André Horowitz estava com 2 anos, toda vez que queria algo, falava "ele quer" no lugar de "eu quero". Certo dia pediu à mãe: "Ele quer água". Cecília Horowitz voltou-se para o marido e procurou confirmar: "Ele, o papai, quer água?" O garoto, nervoso, negou: "Ele, não". E apontou para si: "Ele quer água!" André levou mais de dez meses para conseguir empregar o pronome "eu" corretamente. A demora não assustou Cecília. Fonoaudióloga, ela sabe que é absolutamente normal ouvir qualquer criança se referir a ela mesma como "você", "nenê", "ele" ou pelo próprio nome. E, principalmente, quando vai pedir alguma coisa. "A criança conhece vários pronomes, como você, meu, ele, esse e inclusive o eu, mas ainda não sabe usá-los de forma correta", diz Cecília. "Nessa fase, ela desconhece qualquer regra de linguagem", completa a psicóloga Lúcia Maria Franco da Silva, professora da PUC-SP. Ela lembra que a criança pratica a fala ouvindo e imitando o adulto, e que, nesse aprendizado, o entendimento do uso do "eu" pode ser um pouco mais difícil, porque ninguém chama o filho por essa palavra. "Por isso a criança se atrapalha. Mas os equívocos que comete não significam que ela tenha alguma dificuldade para compreender quem é. Essa noção já está clara nessa idade. A criança sabe que é um ser separado da mãe, que tem nome, quais são seus brinquedos", assegura a psicóloga.
Processo sofisticado
Falar parece ser fácil, mas é um mecanismo elaborado. "Envolve aspectos biológicos, cognitivos e emocionais. Cada criança desenvolve a fala no seu ritmo, mas em geral esse processo dura cerca de quatro anos", diz a psicóloga Lúcia Maria. Ela observa que é comum os pais ficarem preocupados quando o filho já falava algo corretamente e passa a falar errado. Por exemplo, se ele diz "eu fiz bolo" com 1 ano e 10 meses e depois, aos 2 anos e meio, fala "você faziu bolo". "Não é erro nem regressão. Antes a criança acerta por imitação, mas, quando começa a incorporar as normas da linguagem, ela tenta colocar em ordem as palavras do jeito dela. É um sinal positivo, de avanço intelectual. A criança demonstra que está organizando o pensamento", explica Lúcia. Os pais só precisam ser pacientes. Depois de um tempo de ajustes, da noite para o dia André acertou o "eu quero água". "Não errou mais", conta a mãe, Cecília.
Bom estímulo
Gastar o verbo, ou conversar, com seu filho é a melhor forma de incentivá-lo a fazer o uso correto da linguagem. Mostre a sua blusa e a dele, por exemplo. Fale "eu quero água" e pergunte a ele: "E você?" A psicóloga Lúcia Maria Franco da Silva orienta os pais a ler livros e, no meio da história, fazer perguntas ao filho sobre o enredo, estimulando-o a responder sempre mais do que um simples "sim" ou "não". O exercício ajuda a criança a traduzir o pensamento em palavras.
Fonte Revista Crescer
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