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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Gagueira na Infância



SUGESTÕES DE ORIENTAÇÃO À FAMÍLIA

Quais são as orientações para as famílias de crianças que gaguejam?

1. Informações claras e precisas sobre o que se sabe e o que ainda não se sabe sobre gagueira.
Aprender a falar é muito complicado. Pequenas disfluências fazem parte deste processo. Para algumas crianças, no entanto, estas podem ser sinais que deveriam nos alertar para uma possível gagueira, especialmente se a família tem história positiva.
As informações que já são convergentes no entendimento da gagueira são as seguintes: predominância do sexo masculino (4 homens para 1 mulher), incidência em parentes de primeiro e segundo graus, diferenças entre gagueira e disfluência, diferenças entre criança que gagueja e a criança não fluente, idade de três anos como a mais incidente para o surgimento  da gagueira, comorbidades com distúrbios de linguagem em geral, memória, fonologia e motricidade oral em particular, a influência da velocidade da fala (1). Pais (e pacientes) bem informados colaboram muito mais por sentirem-se parte do processo.

2.  Informações sobre as causas da gagueira
Sabemos que a gagueira tem causa ainda não está totalmente desvendada e é múltipla e complexa na sua natureza. Os achados de pesquisas mais recentes têm mostrado o envolvimento dos sistemas neuromotor e neurofisiológico na produção de uma fala gaguejada(2). Atualmente, poucos especialistas concordam com a idéia de uma causa totalmente psicológica, embora  stress,  frustrações, vergonhas, sentimento de inadequação, entre outros, colaborem para aumentar ou manter a gagueira.

Veja nestes endereços mais informações sobre causas da gagueira:

A teoria Johnsoniana, datada de 1955, diz que a gagueira é o resultado de uma ansiedade causada pela influência negativa dos pais sobre uma fala inadequada de sua criança. Como já se sabe, não há nenhuma pesquisa que comprove que os pais sejam a causa primária da gagueira (3).

3.      Informações sobre as características da gagueira são encontradas neste endereço:


4.      Orientações sobre o que fazer para auxiliar o aumento da fluência da criança.
As orientações básicas da Fundação Americana de Gagueira(4,5,6), de Van Riper  e Emerick(7), de Andrade (8) e de Bohnen(9)  são sempre muito úteis.

a.  Ser “todo ouvidos”.
            Isto significa aprender COMO ouvir e REAGIR à criança, tentar compreender as entrelinhas, identificar as situações que exigem audição intensa e imediata.  Ouvir é uma parte essencial da comunicação e deve ser agradável e recompensador.

 b. “Falar com” ao invés de “falar para”
            “Falar com é diferente do que falar para.  Significa ouvir mais e mandar menos, ter tolerância, promover modelo adequado de fala, experiências agradáveis de comunicação, auxiliar a criança a expressar seus sentimentos.

c.   Usar a comunicação não-verbal
            Expressar apoio, usar padrão vocal afetuoso, ter proximidade, demonstrar afeto e compreensão. Tocar a criança, acolhê-la.       Procurar controlar as “caras e bocas”, mesmo que sejam feitas não intencionalmente.

d.   Diminuir a pressão do tempo na comunicação
            Mostrar ao invés de dizer ou mandar, falar mais devagar com a criança, dar-lhe tempo, não interromper, esperar dois segundos antes de responder ou perguntar alguma coisa.

e.  Revisar o estilo de vida
            Se a vida familiar está muito agitada, compromissada, procurar rever onde poderiam acontecer algumas pequenas mudanças que permitam um pouco mais de flexibilidade. Excesso de regras e compromissos não facilitam a comunicação, especialmente  a  de uma criança que gagueja. No entanto, é preciso distinguir entre flexibilidade, rigidez e disciplina. Flexibilidade e rigidez se contrapõem, já a disciplina permite o uso de regras decididas coletivamente e que organizam a criança. Zebrowski(10) diz que na disciplina, a estrutura reduz a ansiedade, a consistência permite a  previsibilidade; já a inconsistência aumenta comportamentos de  evitação.

f.  Aceitação de um filho que  gagueja
             Procurar entender as diferenças individuais da fala, aumentar a tolerância, expressar aceitação, descrever os comportamentos ao invés de rotulá-los. Conversar com a criança que a boca às vezes “tranca”, orientando-a direta e calmamente,    evitando de dizer “pare”, “respira”, ”fala devagar”, pedir para parar e começar de novo, etc. Tentar reduzir os medos e as frustrações com a fala disfluente para mostrar à criança como lidar com estes sentimentos.

g.  Não repreender, ridicularizar ou expor a criança, não ameaçá-la com injeções, monstros, castigos, não mandar parar de gaguejar. Não é recomendado “ajudar” a criança completando suas falas, falando ou usando o telefone por ela nem  estimulá-la a substituir palavras gaguejadas por palavras fluentes. Substituir palavras é considerado um insucesso. Aumenta muito o nível de preocupação pelo vocabulário e não diminui a gagueira. É um comportamento de evitação que deve ser desestimulado.

h. É recomendado agir com a criança de forma consistente, independente de ela estar ou não fluente, mostrar que a conversa é prazerosa, mostrar interesse mantendo contato visual. Garantir-lhe que há tempo para escutar o que ela tem a dizer, ou pedir-lhe para aguardar um pouco até poder se dar atenção integral ao que ela diz. Isto ajuda a dar limite à criança. O fato de se ser compreensivo com ela por causa da gagueira não significa que todos têm que parar tudo para ouvi-la. Ela também precisa aprender a esperar a sua vez de falar e de ser ouvida. Quando se reforça  que há tempo para ouvi-la, ela pode compreender que não precisa falar rápido. É uma forma mais sutil de estimulá-la a falar mais devagar sem precisar ficar dizendo isto a todo o momento.

i.  O  que fazer quando a criança mostra muita frustração por não falar fluente?
             Primeiro, reconhecer os momentos de  dificuldade fazendo calmamente algum comentário que mostre que a gagueira foi percebida.  Isto passa para ela a impressão de que o assunto não é tabu, que se pode falar sobre ele sem problemas. Não é fazer críticas nem recriminar a criança pela sua fala. Segundo, se a criança reclamar que não consegue falar, e mostrar sinais de irritação, aproveitar para reforçar que dizer as palavras um pouco mais lentamente, em uníssono com o adulto, pode ajudar. Nesta hora, os adultos podem dizer o necessário com articulação ampla, velocidade controlada, brincando de falar em câmera lenta como na tv, ao reprisar lances de futebol, por exemplo. Terceiro, não desistir de ajudar, mas também não ajudar em excesso. Ajudar não é fazer pela criança. Descobrir o ponto de equilíbrio.

 j. O que fazer com os colegas ou irmãos que fazem chacota?
             Explicar claramente que humilhar as pessoas não é um comportamento adequado, que todos têm qualidades e dificuldades a serem superadas. Que as pessoas que gaguejam não o fazem por achar divertido ou engraçadinho, ou para chamar a atenção. Respeitar as diferenças individuais faz parte do viver em comunidade. Se os pais não conseguem resolver esta questão, o fonoaudiólogo deve solicitar uma entrevista com os irmãos ou professores para se chegar a um termo onde a criança que gagueja possa ser respeitada. E que ela também possa respeitar os outros nas suas dificuldades.

k. O que fazer quando a gagueira está pouco manejável?
             Sabemos que a gagueira é muito variável na sua manifestação. Nos momentos em que a freqüência aumenta, proporcionar à criança situações onde a fluência possa aparecer como cantar, dizer falas automatizadas (dias da semana, números), brincar de falar no ritmo, fazer teatrinhos.

l. Orientação sobre as altas expectativas dos pais
            As condutas dos pais devem estar adequadas à idade da criança, ao seu nível de maturidade, às suas conquistas de fluência com a terapia. Pais devem observar seus níveis de exigências, e seguir as combinações feitas na hora de decidir os objetivos terapêuticos. Melhorar a gagueira não é uma tarefa que se realiza em poucos dias. Tolerância e colaboração são habilidades a desenvolver, sempre que necessário.

Por Anelise Junqueira Bohnen