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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Duas crianças autistas mostram como a arte pode ajudar em seu desenvolvimento



Selecionamos duas histórias, uma estrangeira e uma brasileira, para mostrar que até mesmo crianças com dificuldade de comunicação podem se expressar (muito bem) por meio das artes

Em um primeiro momento, Iris Halmshaw, de 3 anos, parece ser como qualquer outra criança de sua idade. Sorridente, gosta de dançar, correr, folhear livros e caminhar entre árvores e flores em dias ensolarados. Recentemente, porém, a britânica deixou o anonimato para ganhar a atenção (e a admiração) de pessoas de todo o mundo. Tudo graças a suas elogiadas pinturas, que, além de ficarem expostas em uma galeria de arte de Leicestershire, na Inglaterra, também são vendidas online em seu próprio site. Como se não bastasse, há outro detalhe ainda mais curioso ness história: Iris é autista e começou a se expressar por meio dos quadros incentivada pela mãe, Arabella Carter-Johnson, para compensar sua dificuldade em se comunicar com os outros.

“Iris começou a pintar em março deste ano. A atividade fazia parte de um programa escolar caseiro que eu mesma criei. Ela não consegue falar, então queria só que fizesse algumas marcas usando ferramentas e cores diferentes. Não imaginava que seria tão boa nisso”, disse Arabella em entrevista a CRESCER.

A menina foi diagnosticada com autismo em 2011, aos 2 anos. Já, naquele momento, a família passou a frequentar diferentes terapeutas para descobrir como poderiam ajudar em seu desenvolvimento. Desses encontros, surgiu a ideia da pintura.

Segundo a mãe, mesmo em um curto período de tempo, a atividade fez com que Iris apresentasse significativas mudanças. Ela raramente fazia contato visual com outras pessoas, não gostava de brincadeiras em grupo, mostrava comportamentos obsessivos, ficava agoniada quando estava perto de outras crianças e tinha um padrão de sono muito irregular. Hoje, diverte-se escalando as costas da mãe, brinca com outras pessoas, usa seus próprios sinais para se comunicar e consegue dormir melhor.
Uma das pinturas de Iris (Foto: divulgação/ Iris Grace)Uma das pinturas de Iris (Foto: divulgação/ Iris Grace)

No site, além de disponibilizar as obras para venda, Arabella explica como funciona o processo de criação da filha: “Eu preparo alguns potes de tinta com água e a deixo escolher quais cores ela quer usar. Quando precisa de mais, eu faço. E o autismo criou um estilo de pintura que eu nunca vi em nenhuma criança dessa idade. Ela tem compreensão das cores, de como elas interagem umas com as outras”.

O público e os profissionais do ramo parecem concordar. Em novembro, a jovem artista – apelidada de “pequena Monet” por alguns veículos de imprensa internacionais em referência às semelhanças de cores e texturas de suas telas com as do pintor francês – deve ganhar sua primeira exposição individual em Londres.

Da pintura ao balé

As artes plásticas não são as únicas que podem ajudar no desenvolvimento de crianças especiais. Outro bom exemplo é o da carioca Bruna, também de 3 anos, que faz da dança – mais especificamente, do balé – seu principal passatempo.

Quando completou 2 anos, a menina foi diagnosticada com transtorno do espectro autista, condição caracterizada por dificuldades de aprendizado e comunicação menores que as dos portadores de níveis mais graves do autismo. A partir do diagnóstico, os pais de Bruna, Daniel Mattoso de Souza e Bárbara do Valle de Souza, começaram a levá-la periodicamente a um centro de estimulação precoce (espaço atendido por fonoaudiólogos, psicólogos e psicomotricistas) e a um psiquiatra. Foi esse último, por sinal, que deu a sugestão.

Há dois meses, Bruna pratica balé em uma escola carioca de dança (Foto: Divulgação)Há dois meses, Bruna pratica balé em uma escola carioca de dança (Foto: Divulgação)

“Estudos ainda estão sendo produzidos para comprovar a eficiência dessa forma de tratamento, mas sabe-se que a dança tem a função de treinar a linguagem corporal e o desenvolvimento das regiões responsáveis pela motricidade no cérebro. Além disso, ela estimula a conectividade, a atenção, o controle inibitório e a estabilidade emocional. E os pacientes com transtorno do espectro autista costumam se dar bem com a atividade, pois têm atração por movimentos e sons sincrônicos”, explicou Caio Abujadi, pesquisador do IPq-USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo) e médico de Bruna.

Ainda é cedo para pontuar melhorias concretas no desenvolvimento da menina. Segundo o pai, no entanto, o sorriso em seu rosto já mostra que a prática tem trazido benefícios. “E olha que não é tão fácil – normalmente ela está dormindo à tarde, temos que acordá-la para colocar a roupinha e levá-la até a escola. Mas ela se sente feliz lá, sente que está inserida”, afirmou Daniel.

Algumas vezes, Bruna precisa da ajuda de uma auxiliar, que permanece o tempo todo na sala com a professora, para compreender melhor determinada ordem ou executar certo movimento. No geral, porém, consegue acompanhar as aulas tranquilamente ao lado das colegas (que têm, em média, a mesma idade).

“Quando pessoas de fora observam as aulas, não conseguem perceber quem é especial e quem não é. Até porque são todas crianças: elas podem chorar, correr e brincar a qualquer momento, contrariando a professora. É a oportunidade ideal para observarmos que não existe, na verdade, tanta diferença de comportamento entre a nossa filha e as dos outros. Todas têm dificuldades, todas quebram barreiras o tempo inteiro. Isso é mágico, chega a emocionar a mim e a minha mulher. É a prova de que pais de crianças especiais não têm do que se envergonhar, muito pelo contrário”, completou o pai.

Por Elisa Feres e Marcela Bourroul
Fonte: Revista Crescer

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