Aproveite as férias para brincar com o seu pequeno de "faz de conta". Esta simples brincadeira ajuda a criança a desenvolver a coordenação motora, enriquecer a linguagem e estimular o pensamento abstrato
Em uma única tarde, seu filho é capaz de ser um super-herói, o melhor jogador do mundo e o explorador incansável de cenários além da imaginação. A menina, por sua vez, transita com naturalidade tanto pelo papel de princesa quanto pela imitação de uma mamãe dedicada, dando de comer à boneca e trocando a fralda. No instante seguinte, nada impede que eles se transformem em leões ferozes ou astronautas... Afinal, o mundo da imaginação não tem limites.
O faz de conta é uma grande prova de inteligência. "Esses jogos, que começam como imitações despretensiosas, desencadeiam processos psíquicos cada vez mais complexos, que envolvem a observação de uma situação (real ou fictícia), sua análise e a capacidade de sintetizar e extrair significados do que está vivendo direta ou indiretamente. Só depois de todo esse trabalho mental, a criança reproduz nas brincadeiras o mundo imaginado", explica a pedagoga Maria Ângela Barbato Carneiro, de São Paulo.
Em outras palavras, por trás de uma diversão que parece simples, há uma série de atividades intelectuais conjugadas. Afinal, para representar um papel, seu filho primeiro precisa formar imagens mentais dotadas de significado e, em seguida, imaginar gestos e frases capazes de representá-las. "Assim, para brincar de mamãe e filhinha, a garota tem que observar o comportamento dos adultos e, depois, reproduzir o que foi capaz de internalizar, acessando a memória para isso. Na realidade, ela vai imitar um modelo que, no momento da brincadeira, estará ausente, o que é uma característica do pensamento abstrato ou simbólico", completa a psicóloga Vera Barros de Oliveira.
Imaginação a mil
Com frequência, entrar no mundo da fantasia é também uma oportunidade para os pequenos de se colocarem em situações que eles ainda não conseguem compreender muito bem. "Ali, no mundo do faz de conta, a criança tenta reproduzir, a seu modo, tudo o que está à sua volta, atribuindo um sentido à realidade", explica Vera.
Brincar é também uma ótima maneira de perceber a si e ao outro e uma oportunidade valiosa de passar a entender as diversas possibilidades de interação com outras pessoas e com o ambiente. "Por isso, dizemos que a criança representa os papéis sociais antes de se socializar de fato. É como se fizesse um treino sozinha, enquanto brinca, para depois testar as habilidades no grupo", completa a psicóloga.
Participação discreta
Não precisa muito para seu filho exercitar todo esse progresso. Com espaço para se movimentar, brinquedos apropriados à fase e liberdade para explorar alguns materiais de uso doméstico, como utensílios de cozinha e objetos decorativos, ele faz a festa. Facilmente, a tampa da panela vira um volante de carro e a vassoura se transforma em cavalinho. "Quem faz do objeto um brinquedo é a criança. Portanto, não precisa oferecer a ela uma coleção de brinquedos sofisticados. Em geral, bolas pequenas, bonecas, carrinhos que permitam carregar objetos, brinquedos de arrastar e puxar, peças grandes de encaixe, fantasias e fantoches garantem a diversão ao mesmo tempo que, por sua neutralidade, permitem criar e representar diferentes situações", explica Maria Ângela.
De vez em quando, os pais podem dar uma força, propondo um teatrinho, uma dança ou uma sessão de contação de histórias. Só é preciso cuidado para não dirigir a brincadeira o tempo inteiro dizendo como o pequeno deve manipular os brinquedos ou sugerindo situações que ele possa representar. "A criança precisa de tempo e de liberdade para brincar sozinha e fazer suas descobertas. Os pais só devem intervir quando forem solicitados ou para promover desafios que ajudem o filho a avançar nas explorações", aconselha a pedagoga.
Por Rita Trevisan
Fonte Site M de mulher
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