Selecionamos duas histórias, uma estrangeira e uma brasileira, para
mostrar que até mesmo crianças com dificuldade de comunicação podem se
expressar (muito bem) por meio das artes
Em um primeiro momento, Iris
Halmshaw, de 3 anos, parece ser como qualquer outra criança de sua idade.
Sorridente, gosta de dançar, correr, folhear livros e caminhar entre árvores e
flores em dias ensolarados. Recentemente, porém, a britânica deixou o anonimato
para ganhar a atenção (e a admiração) de pessoas de todo o mundo. Tudo graças a
suas elogiadas pinturas, que, além de ficarem expostas em uma galeria de arte
de Leicestershire, na Inglaterra, também são vendidas online em seu próprio
site. Como se não bastasse, há outro detalhe ainda mais curioso ness história:
Iris é autista e começou a se expressar por meio dos quadros incentivada pela
mãe, Arabella Carter-Johnson, para compensar sua dificuldade em se comunicar
com os outros.
“Iris começou a pintar em março
deste ano. A atividade fazia parte de um programa escolar caseiro que eu mesma
criei. Ela não consegue falar, então queria só que fizesse algumas marcas
usando ferramentas e cores diferentes. Não imaginava que seria tão boa nisso”,
disse Arabella em entrevista a CRESCER.
A menina foi diagnosticada com
autismo em 2011, aos 2 anos. Já, naquele momento, a família passou a frequentar
diferentes terapeutas para descobrir como poderiam ajudar em seu
desenvolvimento. Desses encontros, surgiu a ideia da pintura.
Segundo a mãe, mesmo em um curto
período de tempo, a atividade fez com que Iris apresentasse significativas
mudanças. Ela raramente fazia contato visual com outras pessoas, não gostava de
brincadeiras em grupo, mostrava comportamentos obsessivos, ficava agoniada
quando estava perto de outras crianças e tinha um padrão de sono muito
irregular. Hoje, diverte-se escalando as costas da mãe, brinca com outras
pessoas, usa seus próprios sinais para se comunicar e consegue dormir melhor.
Uma das pinturas de Iris (Foto:
divulgação/ Iris Grace)Uma das pinturas de Iris (Foto: divulgação/ Iris Grace)
No site, além de disponibilizar
as obras para venda, Arabella explica como funciona o processo de criação da
filha: “Eu preparo alguns potes de tinta com água e a deixo escolher quais
cores ela quer usar. Quando precisa de mais, eu faço. E o autismo criou um
estilo de pintura que eu nunca vi em nenhuma criança dessa idade. Ela tem
compreensão das cores, de como elas interagem umas com as outras”.
O público e os profissionais do
ramo parecem concordar. Em novembro, a jovem artista – apelidada de “pequena
Monet” por alguns veículos de imprensa internacionais em referência às
semelhanças de cores e texturas de suas telas com as do pintor francês – deve
ganhar sua primeira exposição individual em Londres.
Da pintura ao balé
As artes plásticas não são as
únicas que podem ajudar no desenvolvimento de crianças especiais. Outro bom
exemplo é o da carioca Bruna, também de 3 anos, que faz da dança – mais
especificamente, do balé – seu principal passatempo.
Quando completou 2 anos, a menina
foi diagnosticada com transtorno do espectro autista, condição caracterizada
por dificuldades de aprendizado e comunicação menores que as dos portadores de
níveis mais graves do autismo. A partir do diagnóstico, os pais de Bruna,
Daniel Mattoso de Souza e Bárbara do Valle de Souza, começaram a levá-la
periodicamente a um centro de estimulação precoce (espaço atendido por
fonoaudiólogos, psicólogos e psicomotricistas) e a um psiquiatra. Foi esse
último, por sinal, que deu a sugestão.
Há dois meses, Bruna pratica balé
em uma escola carioca de dança (Foto: Divulgação)Há dois meses, Bruna pratica
balé em uma escola carioca de dança (Foto: Divulgação)
“Estudos ainda estão sendo
produzidos para comprovar a eficiência dessa forma de tratamento, mas sabe-se
que a dança tem a função de treinar a linguagem corporal e o desenvolvimento
das regiões responsáveis pela motricidade no cérebro. Além disso, ela estimula
a conectividade, a atenção, o controle inibitório e a estabilidade emocional. E
os pacientes com transtorno do espectro autista costumam se dar bem com a
atividade, pois têm atração por movimentos e sons sincrônicos”, explicou Caio
Abujadi, pesquisador do IPq-USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de
São Paulo) e médico de Bruna.
Ainda é cedo para pontuar
melhorias concretas no desenvolvimento da menina. Segundo o pai, no entanto, o
sorriso em seu rosto já mostra que a prática tem trazido benefícios. “E olha
que não é tão fácil – normalmente ela está dormindo à tarde, temos que acordá-la
para colocar a roupinha e levá-la até a escola. Mas ela se sente feliz lá,
sente que está inserida”, afirmou Daniel.
Algumas vezes, Bruna precisa da
ajuda de uma auxiliar, que permanece o tempo todo na sala com a professora,
para compreender melhor determinada ordem ou executar certo movimento. No
geral, porém, consegue acompanhar as aulas tranquilamente ao lado das colegas
(que têm, em média, a mesma idade).
“Quando pessoas de fora observam
as aulas, não conseguem perceber quem é especial e quem não é. Até porque são
todas crianças: elas podem chorar, correr e brincar a qualquer momento,
contrariando a professora. É a oportunidade ideal para observarmos que não
existe, na verdade, tanta diferença de comportamento entre a nossa filha e as
dos outros. Todas têm dificuldades, todas quebram barreiras o tempo inteiro.
Isso é mágico, chega a emocionar a mim e a minha mulher. É a prova de que pais
de crianças especiais não têm do que se envergonhar, muito pelo contrário”,
completou o pai.
Por Elisa Feres e Marcela Bourroul
Fonte: Revista Crescer
muito legal seu blog.
ResponderExcluirParabéns