Gustavo Teixeira, psiquiatra da
infância e adolescência, selecionou os 25 desvios que mais acometem as crianças
brasileiras e os colocou no Manual dos Transtornos Escolares – primeiro guia
nacional a dar dicas a pais e educadores sobre sintomas e tratamentos
Transtorno desafiador opositivo,
transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDAH), transtorno bipolar do
humor, anorexia, bulimia, deficiência intelectual, autismo, esquizofrenia,
dislexia, depressão, comportamento suicida. Estes são alguns dos principais
transtornos comportamentais sofridos pelas crianças e pelos adolescentes
brasileiros. Quem chegou a essa conclusão foi o carioca Gustavo Teixeira,
psiquiatra da infância e adolescência, que selecionou os casos que mais
costumam aparecer em seu consultório e os registrou no recém-lançado Manual dos
Transtornos Escolares (Editora Best Seller, R$19,90).
O livro é o primeiro guia
nacional a dar dicas a pais e educadores sobre os sintomas e os tratamentos
desses transtornos dentro do ambiente escolar. “Senti a necessidade de
escrevê-lo há alguns anos, quando comecei a dar cursos e palestras. Antes dele,
não existia nenhum outro no Brasil que abordasse os principais transtornos de
comportamento na infância. Estima-se que 10 a 20% das crianças e adolescentes do mundo
precisam de algum tipo de ajuda na área mental. É um conhecimento que os pais e
educadores precisam ter”, explicou Gustavo em entrevista a CRESCER.
Manual dos Transtornos Escolares,
sexto livro da carreira do psiquiatra, foi baseado em um curso que o especialista
oferece na Brigdewater State University (universidade do estado de
Massachusetts, nos Estados Unidos) sobre psicoeducação. A ideia, segundo ele,
foi unir o conhecimento adquirido no exterior com sua experiência clínica do
Brasil.
Manual dos Transtornos Escolares
(Editora Best Seller, R$ 19,90) (Foto: Divulgação)
Confira abaixo a entrevista
completa.
C.: O número de crianças com transtornos comportamentais tem aumentado
nos últimos anos?
G.T.: Atualmente temos uma
incidência alta deste tipo de problema, mas não podemos falar que os números
têm aumentado. O que acontece é que, hoje, estamos mais habilidosos para
identificar as patologias. A medicina está mais evoluída, então conseguimos chegar
aos diagnósticos com mais facilidade que antigamente.
C.: Em quais idades esse livro é focado?
G.T.: Em todas as idades.
Procurei escrever uma visão geral de transtornos no ambiente escolar da
educação infantil até o ensino médio. Isso depende, em grande parte, do
transtorno em si. O
autismo pode ser diagnosticado bem cedo, quando o bebê tem cerca de seis meses,
enquanto a dislexia demora 7 ou 8 anos, por exemplo. É por isso que em cada
capítulo coloquei um caso clínico real para ilustrar, para que o leitor tenha
acesso a informações que o permitam visualizar todo o cenário.
C.: No livro você cita 25 problemas. Entre eles, quais são os mais
comuns?
G.T.: Se eu tivesse que dizer os
cinco de maior incidência, apontaria o bullying, o transtorno desafiador
opositivo, o déficit de atenção / hiperatividade, o autismo e a dislexia.
C.: Quais são os mais difíceis de serem tratados?
G.T.: Depende da gravidade de
cada quadro. Existem casos leves, moderados e graves de todas as patologias.
Mas algumas costumam ter prognóstico mais negativo. A esquizofrenia de início
precoce é uma delas. Pelo simples fato de existir, ela já é considerada grave,
pois o impacto é para a vida toda. É o caso também da deficiência intelectual.
C.: Como os pais e professores podem saber se a criança está apenas com
algum problema em seu cotidiano ou se apresenta, de fato, um transtorno de
comportamento?
G.T.: Digo sempre que os pais e
educadores devem estar atentos a duas áreas do funcionamento global da criança.
A primeira é o desempenho acadêmico. Notas baixas em determinadas matérias,
eventualmente, são naturais, mas, quando ela não consegue aprender nunca, deve
ser investigada, alguma coisa pode estar errada ali. A segunda área é a do
funcionamento social. Quando a criança é exageradamente tímida, retraída,
agressiva, sozinha ou triste, também deve ser avaliada. E o mais importante é
que isso aconteça cedo.
C.: A principal ideia do livro é essa? Mostrar sinais para que esses
transtornos sejam detectados a tempo de serem revertidos?
G.T.: Sem dúvida. Os grandes
problemas do nosso país são o preconceito, a desinformação, a ignorância. É
muito triste receber na clínica uma criança de 4 anos de idade e diagnosticá-la
com autismo, sendo que aquele quadro deveria ter sido diagnosticado muito
antes. Meu objetivo é oferecer informação para orientar as famílias e os
educadores e combater isso. Além, é claro, de estimular a prevenção. De forma
geral, o que causa uma doença psiquiátrica é a vulnerabilidade genética
associada a desencadeadores ambientais. Um exemplo: sentar à mesa e ter uma
refeição pacífica dentro de casa, por exemplo, é um fator de proteção contra o
uso de drogas. Outro: uma criança com propensão a ter esquizofrenia pode
desenvolver um quadro grave da doença quando é inserida em um ambiente caótico.
C.: O tratamento em crianças e adolescentes é muito diferente do
tratamento em adultos?
G.T.: É bem diferente. Quando
lidamos com crianças, temos muito mais oportunidades de intervenção. Isso sem
falar no apoio da família, que é fundamental. Um adulto pode procurar ajuda
sozinho, mas uma criança, não, sempre tem alguém por trás, o que facilita
bastante o processo.
C.: No livro você une patologias, como depressão, a outros problemas
sociais, como bullying e uso de drogas. Por que você resolveu escrever dessa
maneira?
G.T.: Isso é muito comum não só
na área da saúde mental, mas em toda a medicina. Chama-se comorbidade, situação
em que duas ou mais condições médicas ocorrem ao mesmo tempo. A pessoa pode ter
gastrite e hipertensão, por exemplo. Em termos de patologia comportamental,
pode ter transtorno desafiador opositivo e TDAH ou ter depressão e ficar mais
vulnerável ao bullying e ao uso de drogas. Isso torna a avaliação mais difícil,
um sintoma “camufla” o outro. Por isso, insisto que é necessário procurar um
profissional sempre que houver suspeita.
C.: A quem você recomenda a leitura?
G.T.: A todos os educadores e
pais. De maneira geral, todos nós estamos vulneráveis a essas questões
comportamentais. Pais e professores precisam ser capacitados para lidar com
essas crianças. Elas estão aí precisando de ajuda e, se não tiverem, vão se
desmotivar e perder anos de suas vidas à toa. Essa é uma bandeira que levanto
sempre.
Por Elisa Feres
Fonte: Site Crescer
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