O melhor tratamento para as
crianças autistas é descobrir seus pontos fortes e desenvolver essas
habilidades, de modo que elas possam vir a ter uma vida independente e garantir
o próprio sustento.
Essa é a mensagem de Temple
Grandin, 65, uma das mais reconhecidas autoridades em autismo no mundo, que
acaba de lançar nos EUA o livro "The Autistic Brain: Thinking Across The
Spectrum" (O cérebro autista: pensando através do espectro).
No livro, ela mostra evidências
de que o cérebro dos autistas é fisicamente diferente e diz que isso deve ser
levado em consideração na identificação e no tratamento de pessoas com o
distúrbio.
Também discute as definições de
autismo na nova edição da chamada "bíblia" da psiquiatria, o DSM (Manual
de Estatísticas de Diagnósticos), cuja versão mais recente foi lançada nos EUA.
A nova edição elimina as diversas
classificações de autismo e as junta numa categoria só com diferentes graus de
severidade.
Mas, principalmente, Grandin
procura mostrar como pensam os autistas e como eles podem ser orientados. Ela
mesma autista, inventou uma "máquina de abraçar", que a ajudava a
controlar a ansiedade provocada por sua condição.
Cientista especializada em
comportamento dos animais, sua história virou um filme ("Temple
Grandin", de 2010), que ganhou prêmios em penca, inclusive sete Emmy.
"O autismo é parte de quem
eu sou", escreve ela. "Mas não vou permitir que ele me defina. Sou
uma expert em animais, professora, cientista, consultora."
Foi de seu escritório na
Universidade do Estado do Colorado, onde dá aulas e realiza pesquisas, que ela
concedeu por telefone esta entrevista à Folha.
Folha- Qual sua avaliação da nova
definição de autismo estabelecida no novo manual de psiquiatria, o DSM-5?
Temple Grandin - Alguns
indivíduos não vão mais ser considerados autistas depois das novas definições.
Elas terão impacto também sobre o acesso que essas pessoas têm ao seguro de
saúde. O diagnóstico é todo baseado em análise do perfil de comportamento da
pessoa. Não são levados em consideração os conhecimentos que temos sobre o
cérebro dos autistas.
Seu novo livro trata do cérebro
dos autistas. Em que ele é diferente?
As ligações são diferentes, meu
cérebro é diferente do cérebro de um neurotípico [pessoa sem o transtorno]. Não
é culpa da mãe ou da educação, autistas nascem com diferenças físicas.
Como deve ser o tratamento das
crianças com autismo na escola?
A educação deve levar em
consideração as habilidades da criança, investindo nelas. Se a criança tem
habilidade para as artes, vamos investir nisso. É preciso trabalhar com a
criança para enfrentar suas dificuldades. Se ela tem problemas para se
relacionar, é preciso ensinar aos poucos as habilidades sociais, ensiná-la a
cumprimentar, a dar a mão. Se não consegue falar, é preciso atacar esse
problema, uma palavra de cada vez, ou usar música.
Como os país podem saber se seu
filho é autista?
Não é preciso fazer ressonância
magnética do cérebro para identificar autistas ou crianças com problemas de
desenvolvimento. Se uma criança chega aos três anos e ainda não consegue falar,
existe algum problema.
Como a família pode ajudar a
criança?
A melhor forma é ficar muito
tempo com a criança, horas a fio, conversando com ela, tentando ensinar uma
palavra, um gesto de cada vez. Avós são muitos boas para isso; em geral, têm
tempo para se dedicar aos netos e habilidades pedagógicas.
Na escola, devem ser colocadas em
classes especiais?
As crianças com autismo podem
frequentar escolas comuns, mas os professores precisam saber que elas têm
necessidades e habilidades especiais. Uma criança autista pode ser muito fraca
na escrita, mas ótima com os números. Então, ela deve receber atendimento extra
para aprender a escrever ou ler e ser incentivada a progredir naquilo em que
for boa --no exemplo, pode passar adiante da classe em matemática.
O que precisa mudar no atendimento
à criança autista?
Os educadores devem focar nas
habilidades das crianças autistas, não só nas suas deficiências, para que elas
tenham melhores condições de se integrar à sociedade. As crianças autistas
devem ser incentivadas a se especializar em alguma atividade.
Quando eu estive na escola, sofri
muito com as críticas e as gozações dos outros. Eu me refugiei no desenho, no
trabalho com os animais. A atividade especializada é muito boa para os
autistas: música, artes, robótica, seja o que for.
O que fazer para que os autistas
possam ter uma vida independente?
É preciso entender que os
autistas pensam diferente. Alguns pensam em padrões, outros por imagens. É
preciso aproveitar isso para ajudá-los, para que possam contribuir com a
sociedade. Mas é preciso ajudá-los.
Eu sugiro que, a partir dos 12
anos, as crianças recebam orientações e treinamento em áreas que possam lhes
ser úteis para que venham a ter um emprego, seja atendendo em uma loja, seja
trabalhando com animais ou qualquer outra coisa.
Rodolfo Lucena de São Paulo
Fonte: Site Folha de São Paulo
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