Sensação de abafamento e zumbido podem ser sinal de lesão.
Veja dicas de especialistas para evitar prejuízos ao sistema auditivo.
Abafamento nos ouvidos, zumbido e
sensação de surdez por minutos e até horas. Esses são alguns dos sintomas
comuns a quem festeja o carnaval ao som do batuque das baterias e música alta.
Mas o que nem todos sabem é que a exposição prolongada ao barulho excessivo
pode causar prejuízos irreversíveis à audição se alguns cuidados não forem
tomados.
No carnaval, de acordo com a
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial,
medições de anos anteriores chegaram a apontar uma intensidade de som de 120
decibéis, seja na folia pelas ruas, ao som de trios elétricos, ou no
sambódromo. O ouvido humano, no entanto, suporta apenas uma intensidade de até
85 decibéis. A Associação estima que cerca de 20% dos brasileiros sofram com
algum tipo de perda auditiva.
“O ouvido humano suporta, em
média, sons de até 85 decibéis por cerca de oito horas diárias. Se o som atinge
110 decibéis, a tolerância cai para apenas meia hora. E no caso de 120
decibéis, seriam apenas 15 minutos de tolerância para evitar traumas e danos”,
explica Marcelo Hueb, presidente da Associação Brasileira de
Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial.
A exposição prolongada ao
barulho, como é o caso de trabalhadores de fábricas e indústrias que não
protegem os ouvidos, pode levar à perda definitiva da audição. O mesmo pode
acontecer, segundo Hueb, em caso de exposição a som muito alto, mesmo que por
um curto período. “No carnaval, os foliões costumam ficar muito perto das
fontes de som e expostos durante horas, sem descanso para os ouvidos. Isso pode
causar sérios problemas”, diz.
Há 39 anos à frente da bateria da
Vai-Vai, o Mestre Tadeu afirma que faz acompanhamento médico para evitar
problemas auditivos, mas garante que nunca teve nenhum sintoma. “Ensaiamos
cerca de quatro horas por dia e não costumo usar protetores, mas nunca tive
problemas. Em todos esses anos tivemos apenas um caso de uma pessoa que começou
a perder a audição, mas ainda assim eu prefiro que a bateria não use o protetor
porque pode atrapalhar o andamento do ritmo durante o desfile”, afirma.
A rainha Priscila Bonifácio, que
desfila junto à bateria da Unidos de Vila Maria, acredita que a adrenalina dos
ensaios e do desfile “anestesia” o corpo para qualquer incômodo. “A gente sabe
que o barulho não faz bem, mas nunca senti nada. Sou rainha de bateria há três
anos e se puder vou sambar no meio dos ritmistas. É maravilhoso. Uma emoção e
uma adrenalina que superam qualquer coisa”, conta a musa, de 30 anos.
Apesar da resistência de Mestre
Tadeu e Priscila, Hueb afirma que as pessoas que se expõem prolongadamente ao
barulho não têm o ouvido “treinado”. “Alguém que fica diretamente exposto ao
ruído só não sente os efeitos se for extremamente resistente ou porque ainda
não deu tempo de aparecerem os zumbidos causados pela permanência crônica no
barulho.”
O otorrinolaringologista Pedro
Luiz Mangabeira Albernaz, do Hospital israelita Albert Einstein, e professor da
Escola Paulista de Medicina, explica que os sintomas de lesões auditivas podem
demorar a aparecer. “Estudos apontam que o trauma acústico pode levar até dez
anos para atingir o seu máximo. Um operário submetido a um ruído acima do
permitido pode levar dez anos para sentir os sintomas. Esse é o aspecto mais
traiçoeiro dos problemas auditivos”, explica.
No caso do Mestre Adamastor,
foram necessários 17 anos para sentir os efeitos da exposição ao som alto. Ele
comanda a bateria da Acadêmicos do Tucuruvi e procura usar protetores para
evitar danos ainda maiores. “Eu já perdi parte da minha audição em virtude de
todos esses anos à frente da bateria. Hoje procuro usar protetores sempre que
possível, principalmente às vésperas do carnaval, quando os ensaios são mais
frequentes. Os agudos da bateria são muito prejudiciais. É preciso cuidado”,
conta Mestre Adamastor, que recomenda o uso de protetores por seus ritmistas e
demais integrantes da escola.
O técnico de som da Acadêmicos do
Tucuruvi, Yves Garcia, confirma a intensidade preocupante do som nos ensaios e
desfiles de carnaval. “Na quadra, durante os ensaios, chegamos a registrar um
som de cerca de 120 decibéis, porque o ambiente é fechado. No sambódromo, por
ser aberto, fica um pouco mais ameno, em torno de 100 decibéis, mas o cuidado
ainda assim é imprescindível”, diz.
Com perceber os excessos
Um bom indicador de que o
ambiente não está adequado para a saúde dos ouvidos, segundo especialistas, é o
nosso tom de voz ao conversar. “É automático que, em locais muito barulhentos,
nós aumentemos o volume da voz durante uma conversa. Isso já indica que o
ambiente não está adequado”, afirma Albernaz.
Em caso de exposição intensa ao som
alto, vale destacar que se o zumbido ou sensação de abafamento durarem por mais
de três dias, a recomendação é procurar um especialista para verificar se houve
alguma lesão.
Dicas para a folia
O uso de protetores auriculares
de silicone moldável é bastante recomendado para os foliões que querem evitar
problemas auditivos sérios neste carnaval, porém o acessório pode atrapalhar a
comunicação e, por isso, especialistas consideram que o índice de utilização do
protetor seguirá muito baixo durante os festejos.
“Seria muito otimista achar que
as pessoas irão usar o protetor, então uma boa dica é fazer intervalos de 10
minutos longe do barulho, a cada 30 minutos. Assim o ouvido tem tempo para se
recuperar”, orienta Albernaz. Outra dica importante é ficar a uma distância de
pelo menos 10 metros da fonte sonora.
Por Nathália Duarte
Do G1, em São Paulo
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