Como pediatra, sempre pergunto
sobre os balbucios. “O bebê está fazendo sons?” pergunto ao pai de um bebê de
4, 6 ou 9 meses. A resposta raramente é “não”. Mas caso seja, é importante
tentar descobrir o que pode estar acontecendo.
Se um bebê não está balbuciando
normalmente, algo pode estar interrompendo o que deveria ser uma corrente
essencial: poucas palavras estão sendo ditas ao bebê, algum problema evitando
que ele escute o que é dito, ou dificuldades em processar essas palavras. Algo
errado na casa, na audição ou talvez no cérebro.
Os murmúrios estão cada vez mais
sendo compreendidos como um precursor essencial à fala, e como um indicador
básico do desenvolvimento cognitivo e sócio-emocional. E pesquisas estão
separando os componentes fonéticos desse balbucio, associado à interação de
fatores neurológicos, cognitivos e sociais.
A primeira coisa importante sobre
o balbucio é também a primeira coisa a ser notada: bebês balbuciam de maneiras
similares. Durante o segundo ano de vida, eles moldam seus sons nas palavras de
seu idioma nativo.
A palavra “balbucio” (“blabber”,
em inglês) é significativa e representativa – sílabas repetitivas, brincando em
torno das mesmas consoantes. (Na verdade, a palavra em inglês provavelmente não
veio da Torre de Babel, conforme sustenta a sabedoria popular, mas dos sons
parecidos com “ba ba” feitos pelos bebês.)
Segundo D. Kimbrough Oller,
professor de audiologia e patologias da fala na Universidade de Memphis,
algumas das mais recentes pesquisas analisam os sons que bebês produzem no
primeiro semestre de suas vidas, quando eles estão “guinchando, murmurando e
produzindo sons básicos”. Esses sons são a fundação da linguagem posterior,
disse ele, e aparecem em todo tipo de interações sociais e brincadeiras entre
pais e bebês – ainda sem envolver sílabas formadas, ou qualquer coisa que soe
como uma palavra.
“Ultrapassando os seis meses de
idade, os bebês começam a produzir balbucios gerais, sílabas bem formadas”,
disse Oller. “Os pais não tratam esses sons iniciais como palavras; quando as
sílabas gerais começam a aparecer, os pais as reconhecem como abertas a
discussões”.
Ou seja, quando o bebê diz algo
como “ba ba ba”, os pais podem entender como uma tentativa de dar nome a algo,
e propor uma palavra em resposta.
Na maioria das vezes, eu pergunto
aos pais: “Ele faz barulhos? Ela soa como se estivesse falando?” E na maioria
das vezes, os pais acenam positivamente e sorriem, reconhecendo as vozes de
bebês que se tornaram parte das conversas de família.
Mas a nova pesquisa sugere uma
linha mais detalhada de perguntas: aproximadamente aos 7 meses, os sons de
desenvolveram em balbucios gerais, incluindo vogais e consoantes? Bebês que
partem para vocalizações sem muitas consoantes, fazendo apenas sons como “aaa”
ou “ooo”, não estão praticando os sons que os levarão a formar palavras, e não
estão treinando os músculos da boca necessários ao surgimento de uma linguagem
compreensível.
“Um bebê ouve todos esses sons e
é capaz de diferenciá-los antes de poder reproduzi-los”, disse Carol
Stoel-Gammon, professora emérita de ciências da fala e da audição na
Universidade de Washington. “Para fazer um ‘m’, você precisa fechar a boca e o
ar tem de sair pelo nariz. Isso não nasce em algum lugar de seu cérebro, é algo
que se precisa aprender”.
As consoantes no balbucio
significam que o bebê está praticando, moldando sons ao aprender a manobrar
boca e língua, e escutando os resultados.
“Eles chegam nesse ponto aos 12
meses”, continuou Stoel-Gammon, “e acredito que eles consigam isso porque se
tornam cientes dos movimentos motores orais que diferenciam um ‘b’ de um ‘m’”.
Os bebês precisam ouvir uma
linguagem real, de pessoas reais, para aprender absorver essa habilidade. A
televisão não faz o mesmo, e tampouco os vídeos educacionais; pesquisas
recentes sugerem que esse aprendizado é, em parte, moldado pela qualidade e
pelo contexto da reação adulta.
Para estudar os balbucios,
pesquisadores começaram a examinar a reação social – do bebê e do adulto.
Michael H. Goldstein, professor-assistente de psicologia na Universidade
Cornell, conduziu experimentos mostrando que os bebês aprendem melhor com o
estímulo parental – adquirindo novos sons e padrões, por exemplo – se os pais
oferecem esse estímulo especificamente em resposta ao balbucio do bebê.
“Naquele momento de balbucios, os
bebês parecem preparados a absorver mais informação”, explicou ele. “Trata-se
de criar uma interação social onde agora você pode aprender coisas novas”.
Um estudo realizado neste ano por
esse grupo examinou como os bebês aprendem os nomes de objetos novos. Mais uma
vez, oferecer as novas palavras de vocabulário em resposta às próprias
vocalizações dos bebês fazia com que eles aprendessem melhor os nomes.
Os experimentos sustentam que as
vocalizações de um bebê sinalizam um estado de atenção focada, uma
disponibilidade para aprender a linguagem. Quando os pais respondem aos
balbucios dando o nome do objeto em sua mão, segundo esse argumento, as
crianças têm maiores chances de aprender palavras. Assim, se um bebê olha para
uma maçã e diz, “ba ba”, é melhor responder dando o nome da maçã do que
supondo, por exemplo, “Você quer sua mamadeira?”.
“Acreditamos que os bebês tendem
a emitir balbucios quando estão num estado predisposto a aprender novas
informações, eles estão estimulados, interessados”, afirmou Goldstein. “Quando
eles estão interessados em algo, a tendência é que franzam a sobrancelha”,
continuou ele; os pais devem entender que esse balbucio pode ser “uma versão
acústica da sobrancelha franzida”.
Ali mesmo, na sala de exames, eu
tenho aquela essencial combinação para o experimento, o bebê e o adulto. Essa é
uma oportunidade de verificar o progresso do bebê em formar sons, mas também
uma oportunidade de ajudar o adulto a reagir ao interesse daquele bebê
interessado em aprender a como dar nome ao mundo – um impulso humano universal,
expressado nas sílabas de uma trilha sonora humana universal.
Por Perri Klass
Tradutor: Pedro Kuyumjian
Fonte: UOL Notícias
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