Postagem em destaque

Linguagem: quando é preciso consultar um fonoaudiólogo?

Especialistas explicam quais sinais indicam atrasos na fala A maior parte das crianças começa a falar por volta dos 12 meses....

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Duas crianças autistas mostram como a arte pode ajudar em seu desenvolvimento



Selecionamos duas histórias, uma estrangeira e uma brasileira, para mostrar que até mesmo crianças com dificuldade de comunicação podem se expressar (muito bem) por meio das artes

Em um primeiro momento, Iris Halmshaw, de 3 anos, parece ser como qualquer outra criança de sua idade. Sorridente, gosta de dançar, correr, folhear livros e caminhar entre árvores e flores em dias ensolarados. Recentemente, porém, a britânica deixou o anonimato para ganhar a atenção (e a admiração) de pessoas de todo o mundo. Tudo graças a suas elogiadas pinturas, que, além de ficarem expostas em uma galeria de arte de Leicestershire, na Inglaterra, também são vendidas online em seu próprio site. Como se não bastasse, há outro detalhe ainda mais curioso ness história: Iris é autista e começou a se expressar por meio dos quadros incentivada pela mãe, Arabella Carter-Johnson, para compensar sua dificuldade em se comunicar com os outros.

“Iris começou a pintar em março deste ano. A atividade fazia parte de um programa escolar caseiro que eu mesma criei. Ela não consegue falar, então queria só que fizesse algumas marcas usando ferramentas e cores diferentes. Não imaginava que seria tão boa nisso”, disse Arabella em entrevista a CRESCER.

A menina foi diagnosticada com autismo em 2011, aos 2 anos. Já, naquele momento, a família passou a frequentar diferentes terapeutas para descobrir como poderiam ajudar em seu desenvolvimento. Desses encontros, surgiu a ideia da pintura.

Segundo a mãe, mesmo em um curto período de tempo, a atividade fez com que Iris apresentasse significativas mudanças. Ela raramente fazia contato visual com outras pessoas, não gostava de brincadeiras em grupo, mostrava comportamentos obsessivos, ficava agoniada quando estava perto de outras crianças e tinha um padrão de sono muito irregular. Hoje, diverte-se escalando as costas da mãe, brinca com outras pessoas, usa seus próprios sinais para se comunicar e consegue dormir melhor.
Uma das pinturas de Iris (Foto: divulgação/ Iris Grace)Uma das pinturas de Iris (Foto: divulgação/ Iris Grace)

No site, além de disponibilizar as obras para venda, Arabella explica como funciona o processo de criação da filha: “Eu preparo alguns potes de tinta com água e a deixo escolher quais cores ela quer usar. Quando precisa de mais, eu faço. E o autismo criou um estilo de pintura que eu nunca vi em nenhuma criança dessa idade. Ela tem compreensão das cores, de como elas interagem umas com as outras”.

O público e os profissionais do ramo parecem concordar. Em novembro, a jovem artista – apelidada de “pequena Monet” por alguns veículos de imprensa internacionais em referência às semelhanças de cores e texturas de suas telas com as do pintor francês – deve ganhar sua primeira exposição individual em Londres.

Da pintura ao balé

As artes plásticas não são as únicas que podem ajudar no desenvolvimento de crianças especiais. Outro bom exemplo é o da carioca Bruna, também de 3 anos, que faz da dança – mais especificamente, do balé – seu principal passatempo.

Quando completou 2 anos, a menina foi diagnosticada com transtorno do espectro autista, condição caracterizada por dificuldades de aprendizado e comunicação menores que as dos portadores de níveis mais graves do autismo. A partir do diagnóstico, os pais de Bruna, Daniel Mattoso de Souza e Bárbara do Valle de Souza, começaram a levá-la periodicamente a um centro de estimulação precoce (espaço atendido por fonoaudiólogos, psicólogos e psicomotricistas) e a um psiquiatra. Foi esse último, por sinal, que deu a sugestão.

Há dois meses, Bruna pratica balé em uma escola carioca de dança (Foto: Divulgação)Há dois meses, Bruna pratica balé em uma escola carioca de dança (Foto: Divulgação)

“Estudos ainda estão sendo produzidos para comprovar a eficiência dessa forma de tratamento, mas sabe-se que a dança tem a função de treinar a linguagem corporal e o desenvolvimento das regiões responsáveis pela motricidade no cérebro. Além disso, ela estimula a conectividade, a atenção, o controle inibitório e a estabilidade emocional. E os pacientes com transtorno do espectro autista costumam se dar bem com a atividade, pois têm atração por movimentos e sons sincrônicos”, explicou Caio Abujadi, pesquisador do IPq-USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo) e médico de Bruna.

Ainda é cedo para pontuar melhorias concretas no desenvolvimento da menina. Segundo o pai, no entanto, o sorriso em seu rosto já mostra que a prática tem trazido benefícios. “E olha que não é tão fácil – normalmente ela está dormindo à tarde, temos que acordá-la para colocar a roupinha e levá-la até a escola. Mas ela se sente feliz lá, sente que está inserida”, afirmou Daniel.

Algumas vezes, Bruna precisa da ajuda de uma auxiliar, que permanece o tempo todo na sala com a professora, para compreender melhor determinada ordem ou executar certo movimento. No geral, porém, consegue acompanhar as aulas tranquilamente ao lado das colegas (que têm, em média, a mesma idade).

“Quando pessoas de fora observam as aulas, não conseguem perceber quem é especial e quem não é. Até porque são todas crianças: elas podem chorar, correr e brincar a qualquer momento, contrariando a professora. É a oportunidade ideal para observarmos que não existe, na verdade, tanta diferença de comportamento entre a nossa filha e as dos outros. Todas têm dificuldades, todas quebram barreiras o tempo inteiro. Isso é mágico, chega a emocionar a mim e a minha mulher. É a prova de que pais de crianças especiais não têm do que se envergonhar, muito pelo contrário”, completou o pai.

Por Elisa Feres e Marcela Bourroul
Fonte: Revista Crescer

Irmãos de autistas têm mais chance de ser diagnosticados com o transtorno



Pesquisa realizada na Dinamarca com mais de um milhão de crianças confirma tendência observada nos consultórios e em outros estudos. Pais devem ser orientados por especialistas antes de tomar a decisão de engravidar novamente

Uma pesquisa publicada este mês no jornal científico JAMA Pediatrics traz um dado relevante para a comunidade científica e para os pais de filhos autistas: irmãos mais novos de crianças já diagnosticadas com transtornos do espectro têm cerca de sete vezes mais risco de desenvolver autismo.

O estudo foi realizado com quase 1,5 milhão de crianças nascidas na Dinamarca de 1980 a 2004. Elas foram identificadas e acompanhadas até o final de 2010. Depois, os pesquisadores compararam as crianças que tinham um irmão mais velho diagnosticado com autismo e as crianças cujos irmãos não apresentavam o transtorno.

A pesquisa também levou em consideração os meio-irmãos e chegou ao seguinte resultado: os meio-irmãos por parte de mãe tiveram 2,4 vezes mais risco de também apresentarem autismo e os meio-irmãos por parte de pai tiveram 1,5 vezes mais chance. Na conclusão do estudo, os autores afirmaram que a diferença de risco entre irmãos e meio-irmãos confirma o papel da genética na ocorrência do autismo. Eles também apontam que a chance maior entre meio-irmãos por parte de mãe pode representar o papel dos fatores associados à gravidez e ao ambiente intra-uterino no desenvolvimento do problema.

Segundo o psiquiatra infantil Estevão Vadasz, coordenador do Projeto Autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (SP), o estudo dinamarquês corrobora dados mundiais. “Vários países desenvolvidos já fizeram esse tipo de pesquisa. Estimamos que quem já tem um filho autista tem chance de 8% a 10% de ter outro filho autista”, afirma. A porcentagem é bem mais alta do que a estimativa para a população em geral: 1% de pessoas apresentará transtornos do espectro autista.

Mas, na prática, se você é mãe ou pai e já tem um filho diagnosticado, o que pode fazer? Segundo Estevão, os casais devem passar por uma orientação genética. O médico responsável deve apontar os riscos, mas a decisão final será do casal. O importante é que ela seja tomada com consciência.

Caso decida engravidar novamente, o casal deve submeter a criança a avaliação de psiquiatras desde os primeiros meses para acompanhar seu desenvolvimento. Isso porque, quanto mais cedo é feito o diagnóstico, mais cedo começam os tratamentos e melhor a perspectiva de melhora do paciente.

Fonte: Revista Crescer
Por Marcela Bourroul

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Como estimular a fala da criança



Pesquisa mostra que ações não-verbais podem ser tão importantes quanto o bate-papo para melhorar esse aprendizado. Saiba mais
 
Quando meu filho vai começar a falar? Qualquer pai e mãe se faz essa pergunta e espera ansiosamente pela primeira palavra do bebê. Em média, as crianças começam a balbuciar com 1 ano. Os primeiros sons estão mais para sílabas do que palavras, como “mã” e “pa”. Mas não importa como aconteça, esse momento trará uma emoção enorme.

Para que a criança continue desenvolvendo suas habilidades com a fala, é preciso estimulá-la. O jeito mais natural de fazer isso é conversar com os bebês. No entanto, uma pesquisa realizada na Universidade de Chicago (EUA) provou que ações não-verbais podem ser tão importantes quanto o bate-papo para melhorar esse aprendizado.Por exemplo, o ato de apontar para um livro enquanto se diz “a mamãe vai pegar um livro” facilita a memorização dessa palavra.

O estudo avaliou 50 bebês entre 14 e 18 meses e gravou vídeos enquanto eles interagiam com os pais. Uma das descobertas foi que o uso da fala associada a um contexto específico (falar “livro” quando se está perto de uma estante) variou muito de um pai para o outro. Os filhos daqueles que falavam mais palavras relacionadas ao contexto ou aos objetos em questão apresentaram um vocabulário mais amplo três anos mais tarde. Segundo os pesquisadores, com pequenos ajustes nas conversas os pais podem dar um estímulo mais eficiente à fala das crianças.

De acordo com a fonoaudióloga Ana Maria Hernandez, coordenadora da equipe de fonoaudiologia do Hospital Santa Catarina (SP), falar dentro de um contexto e fazer gestos (como apontar para o objeto) podem favorecer o aprendizado, pois é uma maneira de o adulto apresentar o mundo para a criança. No entanto, a fala também depende de vários outros fatores para se desenvolver. “Ela é uma expressão da linguagem e, como tal, resulta da integração entre diversos sistemas. A criança precisa estar com o sistema neurológico preservado, a parte motora e psicológica também”. Ou seja, até o carinho que você dá para o seu filho pode fazer diferença no desenvolvimento da fala.

A seguir, listamos algumas dicas que você pode adaptar sem muito trabalho ao seu cotidiano:

Narre o mundo
O conceito pode parecer estranho, mas na prática é muito simples. Converse com o seu bebê sobre aquilo que o rodeia. Na hora de trocar a fralda, por exemplo, vá nomeando suas ações: “vou limpar seu bumbum, vamos colocar uma fralda limpinha, você vai ficar cheiroso”. Durante um passeio no parque, apresente as árvores, a grama, os passarinhos. Apontar, como explicado na pesquisa, também é um ótimo recurso porque dá forma às palavras. A criança associa o som ao objeto e fica muito mais fácil decorar o nome dele.

Atenção ao tom de voz
Quando falamos, colocamos sempre uma entonação em nossa voz, que pode significar dor, alegria, tristeza... Não tenha medo de se expressar na frente do seu filho, porque isso vai o ajudar a decodificar as emoções.

Dê atenção e espaço para o bebê
Passar um tempo se dedicando integralmente à criança é importante para criar um ambiente emocional saudável e também para perceber o que ela tem a dizer, mesmo que não o faça com palavras. Dê espaço para a criança demonstrar seus sentimentos e suas vontades. Ou seja, você não precisa ficar falando sem parar na frente do seu filho achando que assim ele vai começar a falar mais cedo. Dar espaço para o silêncio também é importante – ele também é uma forma de comunicação.

Cante. Sem medo de desafinar
Além de conversar, cantar pra criança é essencial. A sonorização, a rima e o ato de cantar transformam a fala em brincadeira, e isso comprovadamente ajuda o desenvolvimento da linguagem, do vocabulário e facilita o período de alfabetização. Outro ponto forte das músicas são os refrões porque a repetição prende a atenção das crianças. Permita que seu filho conviva com diferentes sons e melodias. “Muita gente entra naquela discussão de direitos humanos, que ‘atirei o pau no gato’ passa uma mensagem de violência, mas nos primeiros anos para a criança o que importa é a sonoridade”, diz a pedagoga Eliana Santos, diretora pedagógica do Colégio Global (SP).

Leia histórias e poesias
As histórias, além do estímulo que representam à imaginação, aumentam o vocabulário e a curiosidade sobre a linguagem. Os poemas, assim como as músicas, têm ritmo e sonoridade bem acentuados. Comece com os textos de rimas diretas e, aos poucos, vá sofisticando. Vale lembrar que a leitura não pode ser mecânica. Coloque emoção e pontue cada frase.

Explore sinônimos
Quando seu filho perguntar “qual é o nome disso?”, não se contente em dar uma só resposta. Claro que nem todos os sinônimos ela vai memorizar imediatamente, mas no dia a dia procure variar o jeito como você define as coisas. Eliana dá um exemplo divertido que usava em sua própria casa: “Eu falava para lavar as nádegas em vez de bumbum. Aos poucos, a criança vai enriquecendo seu vocabulário.”

Permita a convivência
Conviver com outras crianças é importante. “Quando uma criança convive com a outra, ela observa muito e repete. Essa troca enriquece sua experiência”, afirma Eliana.

Criança aprende brincando
É isso mesmo. Nada de transformar o aprendizado da criança em algo mecânico. Se a criança está se divertindo e fazendo determinada atividade com prazer, ela aprende muito mais rápido. A dica aqui é: entre pela porta que ela abre para você. Ou seja, se ela se mostrou interessada por um livro específico, em vez de forçar a leitura de outro, ajude-a a explorá-lo. Se ela está tímida, não a obrigue a ficar no colo de todos os parentes da festa. E nada de desespero: se você prestar um pouquinho de atenção, vai identificar a vontade do seu filho em determinado momento.

Fonte: Revista Crescer
Por Marcela Bourroul

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Tratamento com cheiros, sons e texturas traz bons resultados contra autismo



O estudo, apesar de pequeno, revelou diferenças significativas entre as terapias padrão e sensorial
Sentir o aroma de óleos essenciais, andar em superfícies texturizadas, mergulhar as mãos em água morna. Essas são apenas algumas das experiências terapêuticas que foram feitas com meninos com autismo durante um estudo feito pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

De acordo com os cientistas, crianças autistas têm problemas sensoriais, os mais comuns envolvem o cheiro e sensibilidade ao toque. Logo, ao enriquecer o ambiente, a experiência poderia ser benéfica. E realmente foi. Os resultados mostraram uma melhora acentuada em relação às terapias comportamentais tradicionais.

O estudo envolveu 28 meninos autistas, com idades entre 3 e 12 anos. Os pesquisadores dividiram as crianças em dois grupos com base na idade e na gravidade do problema. Durante seis meses, ambos os grupos fizeram a terapia comportamental padrão, mas os meninos de um dos grupos também foram submetidos a experiências terapêuticas.

Os pais dessas crianças receberam um kit que continha óleos essenciais, com aromas de maçã, lavanda, limão e baunilha, para estimular o sentido do olfato. Para fortalecer o tato, o kit continha quadrados de capacho de plástico, espuma suave, um tapete de pia de borracha, alumínio, lixa fina, feltros e esponjas, além de pedaços de carpete, piso duro, travesseiros, papelão e plástico bolha. A ideia foi criar um caminho cheio de texturas para os meninos caminharem. As crianças também receberam itens para manipular, como um cofrinho com moedas de plástico, frutas de plástico em miniatura e uma pequena vara de pesca com um gancho magnético. As crianças também mergulharam as mãos e os pés na água em diferentes temperaturas para estimular o toque da pele da criança.

Os pesquisadores orientaram que os pais das crianças realizassem duas sessões de 15 a 30 minutos por dia envolvendo diferentes combinações de estímulos sensoriais. As crianças também ouviram música clássica, uma vez por dia.

Após seis meses de tratamento, 42% das crianças do grupo da experiência terapêutica tiveram uma melhora significativa ao se relacionar com as pessoas e responder a sons e imagens, em comparação com apenas 7% do grupo de cuidados padrão. As crianças do grupo de enriquecimento também melhoraram a pontuação para a função cognitiva, que abrange aspectos de percepção e raciocínio, ao passo que a média das crianças no grupo de tratamento padrão diminuiu. Além disso, 69% dos pais no grupo de enriquecimento relataram melhora nos sintomas do autismo em geral de seus filhos, em comparação com 31% dos pais do grupo de cuidados padrão.

"Enriquecimento sensorial pode muito bem ser uma terapia eficaz para o tratamento do autismo", disse, em nota, o co-autor da pesquisa Michael Leon, professor de neurobiologia e comportamento da Universidade da Califórnia.

Por Bruna Menegueço
Fonte: Revista Crescer

Autismo: uma nova fronteira para as pesquisas



Em visita ao Brasil, o biólogo Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia, reuniu-se com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para propor a criação de um centro de excelência para estudos do autismo. Saiba mais sobre palestra do especialista a pais e mães

Neste sábado (29), o biólogo Alysson Muotri, uma das maiores referências mundiais em pesquisas sobre autismo, esteve em São Paulo, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, para falar sobre as pesquisas que está desenvolvendo em seu centro de estudos na Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). A palestra - destinada a pais e mães e com apoio da CRESCER - contou ainda com a professora da USP Patrícia Beltrão Braga, que está à frente de uma pesquisa sobre autismo na Universidade, e teve abertura de Berenice Piana, cuja lei que leva o seu nome foi sancionada em dezembro de 2012, concedendo ao autista os direitos legais de todos os indivíduos com deficiência.

No evento, Muotri explicou como usa a tecnologia de células-tronco para entender o funcionamento dos neurônios de pessoas diagnosticadas com transtornos relacionados ao espectro autista.

Em seu centro de estudos, ele usa uma técnica que transforma células de pessoas adultas em células-tronco embrionárias, ou seja, células que ainda não são especializadas. Depois disso, é possível fazê-las se desenvolver novamente e diferenciá-las em células cerebrais. Como essas células tiveram origem em um indivíduo que já estava diagnosticado com um problema, é possível simular no laboratório o funcionamento dos neurônios daquele paciente em comparação com uma pessoa saudável.

A partir dessas comparações, o grupo de estudo de Muotri já conseguiu identificar uma série de diferenças na estrutura dos neurônios e como essas células respondem em conjunto (o que ajuda a entender como funciona o cérebro desses pacientes). A maior parte das pesquisas está sendo feita com portadores da Síndrome de Rett, que faz parte do espectro autista.

Outra vantagem de ter essas células em laboratório é a possibilidade de testar drogas sem precisar de voluntários num primeiro momento. Isto é, os cientistas conseguem observar a reação das células e de diversas moléculas que podem se transformar em remédios eficazes. Claro que depois do teste em laboratório é necessário fazer os testes clínicos, mas a técnica pode reduzir os custos desse processo. Por enquanto, nenhum medicamento foi validado por meio desse procedimento, até porque ele ainda é muito novo, mas é uma aposta dos pesquisadores.

Um grande número famílias enxerga no pesquisador a possibilidade de encontrar a cura para seus filhos. No entanto, durante a palestra, ele fez questão de esclarecer que ainda serão necessárias muitas pesquisas clínicas e laboratoriais para atingir esse sonho.

Outra novidade trazida pelo biólogo é que, como nos Estados Unidos já há grupos de estudo voltados para o autismo há quase uma década, também está sendo possível fazer pesquisas avaliando o histórico dos pacientes. A partir daí, há cientistas que buscam entender qual a diferença entre aqueles que evoluíram bem após alguns tratamentos e aqueles que quase não apresentaram melhoras.

Incentivo para a pesquisa nacional

A vinda de Muotri ao Brasil, no entanto, teve ainda outro objetivo. Na última quinta-feira (27), o cientista se reuniu com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e alguns representantes da sociedade civil para propor a criação de um centro de excelência para estudos do autismo. O projeto surgiu por conta de seu interesse nessa área e do contato com pais brasileiros e pesquisadores.

A proposta é que o governo federal invista inicialmente 100 milhões de dólares para a criação de um centro onde seja possível realizar pesquisas, ensaios clínicos e testar possbilidades de tratamento. Segundo Muotri, o Brasil tem a possibilidade de sair à frente nessa área. Aqui já estão sendo desenvolvidos projetos em consonância com sua linha de pesquisa, como o Fada do Dente, coordenado pela professora da USP Patrícia Beltrão Braga, uma iniciativa inédita na América Latina.

O governo ainda não deu nenhum sinal de que colocará o projeto em prática, mas a conversa desta semana pode ter sido o pontapé inicial para uma nova realidade das pesquisas sobre o transtorno do espectro autista no país. Sobre cura ainda é difícil falar, mas como bem disse Muotri durante a palestra, citando Bill Gates: “Sempre superestimamos as mudanças que vão acontecer nos próximos dois anos e subestimamos as mudanças que acontecerão nos próximos dez. Não se deixe adormecer pela inércia.”

Por Marcela Bourroul
Fonte: Revista Crescer

Pai de três filhos com autismo conta como aprendeu a encarar a vida de forma otimista



“Você tem duas opções: ficar chorando na cama, lamentando uma coisa que não vai mudar ou você ir atrás de informação, de ajuda e profissionais que estejam comprometidos e informados. Eu escolhi a segunda opção”


Receber um diagnóstico de autismo para um filho não é fácil para nenhuma família. Além de ter nuances desconhecidas pela ciência, o transtorno exige dedicação intensa dos pais e um investimento extra para que a criança receba os tratamentos adequados. Imagine, então, receber essa notícia três vezes. Foi o que aconteceu com Pedro*, hoje com 34 anos. Seus três filhos, de dois casamentos, têm autismo. Conversamos com ele para saber o que sentiu após receber os diagnósticos e como é a rotina com as crianças. A certeza de que há perspectivas otimistas para os meninos faz com que Pedro continue buscando ajuda e dá uma injeção de ânimo em quem vive situação parecida.

CRESCER: Como foi receber o diagnóstico pela primeira vez e como você lidou com os outros dois?
PEDRO: Eu tinha 22 anos, não era casado, mas tinha uma relação com uma mulher bem mais velha. Nós tivemos dois filhos. Ela era independente e nós não vivíamos juntos. Foi ela quem me procurou e contou que os dois meninos eram especiais [hoje eles têm 8 e 10 anos e moram com a mãe]. Mas na época ela contou que tinha um caso de problema neurológico na família e eu assumi que o problema seria da parte dela. Seguimos com nossas vidas, dando a atenção necessária aos meninos. Porém, há quatro anos eu me casei e logo em seguida tive meu terceiro filho. E há um ano e meio veio o diagnóstico: ele também era autista. Aí realmente o mundo desabou na minha cabeça porque eu percebi que a carga genética era minha.

C: E o que você fez?
P.: Quando veio o diagnóstico do terceiro comecei a fazer contato com minha ex-companheira, busquei informações e descobri o dr. Alysson [Muotri, pesquisador brasileiro que trabalha na Universidade da Califórnia, estudando o autismo]. Também entrei em contato com a dra. Maria Rita Passos Bueno [que desenvolve pesquisa em autismo no Centro do Estudos do Genoma Humano]. Em um primeiro momento, a sensação foi muito ruim. Como homem você se sente muito mal, porque é como se você tivesse feito mal às crianças. Fui buscar ajuda terapêutica e tive acompanhamento psiquiátrico. Faço terapia até hoje para poder enfrentar isso tudo. Mas, passado o primeiro momento, você percebe que ou fica na cama chorando ou enfrenta, e eu escolhi a segunda opção.

C: Como é o tratamento deles?
P.: Os três fazem acompanhamento com terapeuta ocupacional, psicomotricistas e frequentam a escola regular. O mais velho, que no primeiro momento tinha todos os traços de autismo clássico, hoje já evoluiu para Asperger [que também faz parte do transtorno de espectro autista] e o psiquiatra nos falou que “ele já foi”. Isto é, provavelmente vai levar uma vida independente, vai casar, ter uma profissão, tamanha a evolução dele. E isso enche muito a gente de esperança.

C: Você acredita que essa evolução tem a ver com os estímulos que vocês proporcionaram?
P.: Sem sombra de dúvidas, o ideal é intervir o mais cedo possível. A intervenção do mais velho não foi tão cedo quanto o mais novo. E mesmo assim ele apresenta melhoras significativas, já não tem estereotipia nenhuma. É inteligentíssimo, nunca repetiu de ano e não aceita tirar menos de 8,5 nas provas.O mais novo, de 3 anos, já está começando a falar, com certeza porque nós começamos com as terapias cedo. Ele tinha 2 anos quando foi diagnosticado. Já o segundo, com 8 anos, é o mais limitado, ele tem um quadro de autismo clássico realmente, ainda não fala.

C: Com três filhos de idades diferentes, você nota alguma evolução no tratamento do autismo?
P.: O mais novo teve acesso a algumas vitaminas importadas. Na época dos mais velhos não demos. Mas, na verdade, muita coisa do tratamento do mais novo foi feita nos Estados Unidos, porque muitos médicos brasileiros desconhecem. As vitaminas, por exemplo, foram recomendadas por uma pediatra norte-americana. É difícil porque os médicos nem sempre estão preparados para tratar essas crianças. Essa pediatra mesmo me disse que o que ela estudou sobre autismo na faculdade não tem nada a ver com o que está no consultório. E nós fizemos lá alguns exames que não são pedidos aqui e por sorte hoje eu tenho condições financeiras para isso. Eu não tenho dúvida de que o autismo está relacionado também a questões metabólicas. Nos exames, várias taxas estavam desreguladas. Nós fizemos com o mais novo a dieta celíaca, cortamos a lactose e eu tenho uma visão de que isso funciona. E meu filho hoje com 3 anos está falando.

C: Você tem contato com outros pais de crianças autistas?
P.: Eu não tenho, mas acho que em alguns casos é importante. Acho que aqueles que têm menos condições financeiras precisam de uma força extra, porque o tratamento é difícil e nem um pouco barato. Para uma criança fazer todos esses tratamentos não sai por menos de 6 mil reais por mês.

C: Como seus filhos se relacionam entre si?
P.: Os dois mais velhos não têm contato com o mais novo. Mas o mais velho entende que o irmão tem uma dificuldade e ajuda a cuidar, tem um carinho todo especial. Mas ele não aceita que tem o mesmo problema, porque ele vê o irmão e não aceita que haja tamanha diferença na evolução dos dois.

C.: Que dica você daria para um pai que está enfrentando essa situação?
P.: Eu sou kardecista, é uma crença particular, mas acho que nada na vida acontece por acaso. E aí não tem jeito, você vai passar pelas fases que são naturais. Primeiro, aquela tijolada que você recebe na cabeça. Depois, e aí é que está a grande dica, você tem duas opções: ficar chorando na cama, lamentando uma coisa que não vai mudar ou você ir atrás de informação, de ajuda e profissionais que estejam comprometidos e informados. Grandes médicos hoje não acreditam em nada do que a gente está falando, acreditam que o diagnóstico de autismo é uma sentença e acabou. E não é verdade. Claro que existem casos e casos, e os quadros mais graves do espectro nem sempre evoluem bem. Mas você não pode definir o diagnóstico como uma sentença. Tenha fé e não pense que, se o seu filho não evoluiu como você esperava, foi uma viagem perdida. Os resultados podem aparecer em prazos longos, por isso que paciência e fé são fundamentais. Tenha certeza, como pai de crianças especiais, que paciência e fé não são coisas grandes de se pedir. Eu falo de coração aberto: este ano passei o Dia dos Pais ouvindo meu filho me chamar de papai. No ano passado, saí do consultório médico sentenciado que não aconteceria. Então, já valeu a pena.

*O nome do pai foi trocado a pedido do entrevistado
Por Marcela Bourroul
Fonte: Revista Crescer

Articulação temporo-mandibular



Você tem dores de cabeça frequentes?

Escuta um estalo quando abre e/ou fecha a boca?

Tem aquele zumbido nos ouvidos?

Você pode ter dtm (disfunção temporomandibular)!

Descubra na foto um pouco mais sobre essa articulação (atm) e suas disfunções.


Audição

Muitos barulhos que ouvimos ao longa da vida fazem com que as células dos nossos ouvidos se degradem, o que podem ocasionar perdas auditivas irreversíveis.

Saiba quais são os principais ruídos que afetam nossa audição e confira quais são os primeiros sinais de que não estamos ouvindo bem!



Cérebro Autista

 

Fonoaudiologia


Fonte: Dia a Dia Fonoaudiologia

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Motricidade Orofacial e Terapia Miofuncional



Segundo o Comitê de Motricidade Orofacial da SBFa (Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia), a Motricidade Orofacial é o campo da Fonoaudiologia voltado para o estudo/pesquisa, prevenção, avaliação, diagnóstico, desenvolvimento, habilitação, aperfeiçoamento e reabilitação dos aspectos estruturais e funcionais das regiões orofacial e cervical.

Terapia Miofuncional

A terapia miofuncional orofacial tem como objetivo a adequação das funções orais:
  • Respiração
  • Sucção
  • Mastigação
  • Deglutição
  • Fala

Hábitos deletérios (ex: sucção de dedo, chupeta, roer unhas etc)

A terapia miofuncional orofacial pode ser realizada em pacientes de todas as faixas etárias e nas mais diversas disfunções orofaciais apresentadas (deglutição atípica, alterações no padrão respiratório, disfagias, malformações craniofaciais, estética facial, fala etc).

Procedimentos

Os procedimentos envolvidos na terapia de motricidade orofacial são:
  • Anamnese: entrevista com o paciente e/ou familiares
  • Exame clínico: avaliação clínica das estruturas, mobilidade e funções do sistema estomatognático.
  • Terapia Miofuncional: técnicas terapêuticas específicas para cada caso, envolvendo exercícios musculares, trabalho com as funções orais alteradas e conscientização do paciente e familiares.

Autoria do texto: Lilian Kotujansky Forte
Fonte: Fonológica